domingo, 19 de julho de 2009

Os meus dez filmes preferidos ( ou dezessete).

No meu perfil que consta desta página está escrito que não listaria filmes preferidos porque seria muito longo. Me chamaram de "metido a besta", cinéfilo pretensioso, e coisas piores. Não tenho nenhuma pretensão de debater nada sobre existencialismo alemão, realismo russo ou nouvelle-vague com cinéfilos de carteirinha, bolsas de couro e roupas de tecido de fibras naturais. Não suportaria dois dedos de prosa com o Rubens Ewald Filho e acho que jamais conversaria com o José Wilker, se é que o Wilker deixa alguém conversar com ele.
Então, para acabar com este mal-entendido que me tirou o sono, e ficar carregando a culpa de uma pretensa intelectualidade, resolvi logo compilar uma lista de filmes favoritos. E verão que não há nada de mais.
De quebra, deixo este Blog no ar por uma semana, porque estou entrando em férias.
A lista foi feita com base em critérios próprios, muito próprios, e basicamente, um destes critérios teve um peso definitivo: todos os filmes abaixo me impressionaram muito quando os vi, e, se for convidado para assistir de novo, não vacilo, vou.
Três autores mereceram um destaque e elenquei os seus filmes que se enquadram na qualidade acima. Além disto, fiz uma menção honrosa. Por isto, a lista tem mais que 10. 
Mas, deixando o papo furado para lá, vamos aos filmes, com pequenas observações minhas mesmo. A ordem não tem relação com a preferência.
  • Witness ( A Testemunha) - de Peter Weir ( 1985), com Harrison Ford e Kelly Mc Gillis. Uma surpresa, mas certamente o filme que mais assisti em minha vida. O que era para ser um policial banal, vira um filmaço sobre o confronto da dura realidade da corrupção policial e a vida asceta, simples e agrária dos "amishes" da Pennsylvania. O filme recebeu uma nomeação para o Oscar de melhor roteiro e Harrison Ford, uma indicação para o Oscar. Na verdade, neste filme, Ford provou que podia fazer algo mais que Indiana Jones ou contracenar com robôs e monstros de outros planetas. Tem três cenas antológicas: a construção de um celeiro pela comunidade "amish", uma cena romântica entre Ford e Mc Gillis ao som de um rádio de automóvel velho e a surra num moleque especialista em humilhar "amishes" que lava a alma dos espectadores ascetas.
  • Lawrence da Arabia - de David Lean (1962), com Peter O'Toole, Omar Sharif, Alec Guinnes e Anthony Quinn. A obscura história de T. E. Lawrence, figura proeminente na Primeira Guerra Mundial e que depois resolveu sumir da vida pública. Levou dois anos para ser filmado. Alec Guinnes e Anthony Quinn estão perfeitos. Peter O'Toole exagera nos trejeitos de T.E. Lawrence, mas dá show ao engordar e emagrecer algumas vezes. Indispensável para quem quer entender alguma coisa da atual confusão política do Oriente Médio. Super ganhador do Oscar de 1963.
  • Asas do desejo ( Der Himmel uber Berlin) - de Wim Wenders ( 1987). Recebeu uma refilmagem hollywoodiana, chamada Cidade dos Anjos. O original foi com Bruno Ganz no papel do anjo apaixonado e a refilmagem foi com o Nicholas Cage no mesmo papel. Só pelo elenco, pergunto : dá para comparar ? A cena de Bruno Ganz na coluna da Vitória é antológica. O original alemão também tem detalhes perdidos no remake pipocão, como, por exemplo, a alternância da fotografia em preto-e-branco e colorida, e o fato da mocinha ser uma equilibrista de circo e não uma cirurgiã bam-bam-bam.
  • Local Hero (Momento Inesquecível) - de Bill Forsyth (1983), com Burt Lancaster e Peter Riegert.  Uma mensagem ecológica, com cenário espetacular do norte da Escócia, humor refinado, um pouquinho de Macondo, e um som capitaneado por Mark Knopfler com um tema lindíssimo. Um filmaço, infelizmente pouco percebido. O mais brutal capitalismo esbarra no tradicionalismo, e corrompe uma vila inteira, exceto um improvável herói. O título em Português é de uma falta de significado e ligação com o filme absurdos.
  • LA Confidential (Los Angeles, cidade proibida) - de Curtis Hanson ( 1987), com Kim Basinger, Kevin Spacey, Russel Crowe, Guy Ritchie, James Cromwell, Danny de Vito. Uma trama policial como poucas. Oscar de Melhor Roteiro Original de 1988 e Oscar para Melhor Atriz Coadjuvante para Kim Basinger. É um filme para ser assistido com máxima atenção.
  • Z - Costa-Gravas (1979), com Yves Montand, Jean Louis Trintignant e Irene Papas. Na época, a censura vigente no Brasil bobeou e Z foi exibido. Na prática, o filme é sobre um pacifista grego, chamado Gregori Lambrakis, que em 1973 lançou-se de corpo e alma em uma campanha pela não instalação de bases com artefatos nucleares na Europa. A caminho de um discurso, a personagem vivida por Yves Montand, chamado Zei, inspirado em Lambrakis, apanha um pouquinho e, como resultado de pancadas recebidas na cabeça, morre. Apesar de apanhar de jovens cabeludos e da Polícia, está em curso, na Grécia, um golpe de estado militar apoiado pela Otan, e o discurso pacifista é mal recebido. Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1980. Até hoje não entendi como a censura da época deixou passar. Apesar de tudo, muito atual.
  • Pequeno Grande Homem - de Arthur Penn (1970), com Dustin Hoffman e Faye Dunaway. Um garoto branco é sequestrado por índios e passa a vida a circular entre as sociedades "civilizadas" e as indígenas. É simplemente espetacular como a narrativa irônica consegue provocar um fenômeno então inédito na filmografia norte-americana: o público torce pelos índios. E no fim, o garoto, já crescidinho, se vê na condição de "scout" do General Custer, em plena batalha de Little Big Horn ( a analogia com o nome Cheyenne "Pequeno Grande Homem" é imediata). Ele dá informações precisas sobre como se desenrolaria a batalha e Custer o ignora. Como se sabe, Custer perdeu a batalha e a vida. 
  • As Invasões Bárbaras - de Dennys Arcand (2003), com Rémy Girard e Stephanie Rousseau. Este é especial. É uma continuação de "O Declínio do Império Americano". Os personagens são os mesmos, envelhecidos. Um deles está doente terminal, no Canadá, mas o sistema de saúde do país o trata com desdém. Curioso que o doente e seus amigos critiquem o sistema, inspirado em suas idéias socialistas de 20 anos atrás. A solução é acionar o filho, um milionário jovem, capitalista até o último fio de cabelo, para ajudar a cuidar do pai. O filho não só corrompe todo o hospital, como consegue um tratamento decente para o pai, por métodos pouco ortodoxos. Para completar, a "heroína" da parte final do filme é uma dependente química em..."heroína" !!! Um filme ótimo para quem não sabe em que sistema vive, qual defende e quais são os valores de nosso tempo.
  • Os Suspeitos (Usual Suspects) - de Bryan Singer (1995), com Stephen Baldwin, Gabriel Byrne, Chazz Palminteri, Kevin Spacey, Benicio del Toro. Oscar de Roteiro Original em 1996 e Melhor Ator Coadjuvante para Kevin Spacey. A arrepiante história de Kayser Soze, contada por bandidos de encomenda. Teoricamente, um filme para Gabriel Byrne brilhar, mas até nisso a surpresa é a tônica do roteiro.
  • M*A*S*H* - de Robert Altman (1970) - Depois, originou uma série de TV. Mas não confunda o filme com a série. No filme, Donald Sutherland, Elliot Gould, Robert Duvall e Tom Skerritt se comportam de forma muito pouco normal para quem está no front da Guerra da Coréia. Mas o batalhão é de médicos. O filme é tão insólito que até licença para jogar golfe no Japão é concedida para os médicos. Há também um suicídio hilariante. Apesar de selecionado para o Oscar em várias categorias, ganhou uma só, técnica. Mexia muito com o conservadorismo americano quando ainda corria a pleno a Guerra do Vietnam...
Não é uma lista pouco pretensiosa ? Tem algo de refinado ou intelectual de mais nos exemplares acima ? E Godard ? E Fellini ? E Truffaut ? E Bergman ? Tá bom , vá lá, os caras são bons, mas difícil me causarem impacto.
Mas para não dizer que não falei de filme de autor, destaco três que admiro. O primeiro, naturalmente, é Charles Chaplin. Não gosto de tudo. O Grande Ditador, por exemplo, para mim, é piegas e sem o "timing" de comédia, drama, seja lá o que for. Mas os anos da United Artists produziram três filmes sensacionais. Destaco O Circo, com duas cenas históricas como a do relógio de bonecos e a mula que teimava em dar uma carreira no vagabundo - um filme inesquecível. Em Busca do Ouro, para mim, o mais significativo, o mais emblemático e o mais recheado de idéias copiadas por muitos outros, como a cena do baile e a "dança dos pãezinhos". Por fim, Luzes da Cidade, ótimo filme mudo quando todos queriam o cinema falado.
Alfred Hitchcock...sim, como não mencionar ? Mas, de novo, o que me deixou simplesmente boquiaberto foi assistir a dois filmes dele: Trama Diabólica (The Rope) e sua incrível única cena, absolutamente genial; e Janela Indiscreta, outra idéia inspiradíssima.
De Luís Buñuel gosto de muitos , mas o único que me deixou pensando muito tempo depois que o assisti, foi O Anjo Exterminador. O surreal levado às últimas consequências no cinema.
E a menção honrosa, vai para Mulholland Drive, traduzido para Cidade dos Sonhos, do David Lynch com uma Naomi Watts linda de doer. Mas não fiquei marcado pelo filme por isso não. Foi porque nunca vi duas pessoas concordarem sobre o que, afinal, o autor quis dizer ou contar com o filme.

 

4 comentários:

  1. Gostei de ver sua lista e lembrar de alguns bons filmes que vi.

    A minha lista dos 10 melhores tem muito mais do que 17. Acho que lista dos melhores nunca conseguirei filtrar.

    Roubando o termo que você usou, talvez consiga pensar numa lista dos que mais me causaram impacto . Como tal impacto redundou do modo como fui envolvido, seja pela minha idade ou por meus interesses na época, tenho até medo de rever alguns dos meus prediletos e não conseguir o mesmo envolvimento.

    Vou listar somente alguns que tenho medo de rever e quebrar o encantamento:
    Gritos e sussuros do Bergman
    Onde começa o inferno do Howard Hawks (com John Wayne)
    Alphaville de Godard (filme verborrágico que vale mais pelo discurso, precisa ser assistido anotando as falas)
    A felicidade não se compra do Capra
    Sétimo selo do Bergman
    Quanto mais quente melhor do Billy Wilder
    O Baile de Ettore Scola
    Cinema Paradiso do Tornatore
    Fargo dos irmãos Cohen
    Luzes na Cidade do Chaplin

    Parei. Se continuar passo de 100. Mas o filme que mais me embasbacou foi Gritos e sussurros. Cinema que usa tudo para contar uma história: imagens, sombras, palavras, silêncio, gestos, expressões, atitudes. Este realmente tenho medo de rever e não achar nem metade de tudo isto.

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  2. Gritos e Sussurros quase entrou na minha lista. Nnao entrou porque se me convidarem para assistir de novo, é provável que eu decline.

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  3. Dei os meus palpites sobre vários filmes mas o sistema não aceitou.
    Abraços.

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  4. @Rial

    Filme de sacanagem não vale... o sistema não aceita

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