domingo, 27 de setembro de 2009

A primavera nos ensina. Aproveite !

Começou a primavera. Depois de uma friaca que há muito não se via no Rio de Janeiro, e por isso acho que carioca não acredita em efeito-estufa, há esperanças de tempos melhores. Este primeiro fim-de-semana que está acabando hoje foi um belo presentinho de São Pedro. Mas, estive pensando como esta estação promete e segue umas dicas, muito pessoais, de como aproveitá-la.
Pode ser que se o Rio for escolhido como sede olímpica de 2016,  o que será conhecido no próximo dia 3 de outubro, a primavera seja naturalmente muito festiva. De cara, a Prefeitura e o Estado já declararam ponto facultativo e programam muita festa no dia.
Como não costumo contar com ovo que ainda não saiu da galinha, ignorarei solenemente o dia 3 e o que poderá se suceder a partir dele, seja alegria ou tristeza. Então vamos ao que acho que merece ser feito antes do calorão do verão, das festas de fim de ano, e de 2010, que como se sabe, não terá primavera, pois coincidirá com o período de eleições.

Esportes Náuticos - Vou tomar a liberdade de incluir o surfe. A estacão promete períodos de mar grande, para felicidade dos surfistas. Deve rolar uns dias bons para tow-in, como foi hoje e como foi ontem. Também devemos ter períodos de terral. Os points tradicionais, tipo meio-da-Barra, Macumba e Prainha são as dicas. Para kite surf, é a estação de ventos variáveis, mas vai ser possível empinar a pipa quase todo dia, com um pouquinho de paciência, depois de 14:00. Para a Vela, calendário cheio: Regata do Ciaga e da Escola Naval, chegada da Santos-Rio e circuito Rio. Da metade de novembro em diante, começam as regatas festivas e de fim de ano. Para quem só curte passeio, vai a dica: observe a Baía da Guanabara e se pergunte: porque não despoluem logo isso aqui ?
Para os da Pesca, na primavera começa a alternância de correntes de águas quentes e frias e aumenta a variedade de espécies de peixes. Para quem gosta de barco a motor, passeios às Cagarras e Tijucas. Atenção às ondulações, principalmente embarcações pequenas e jetskis. Começa a ficar bom para planejar esticadas a Angra.

Happy-hour na Orla - Bom demais, seja no quiosque de sua preferência ou na varanda de um clube. Bate-papo com amigos na varanda do Iate Clube ou do Marimbás ou, atravessando a ponte, no Sailing e no Jurujuba, ou na Marina da Glória, pertinho do Centro, são meus locais preferidos, com os barquinhos dando o tom de bucolismo e tranquilidade.

Paineiras e Vista Chinesa - Estação ideal para caminhadas ou pedaladas nas Paineiras e subir a Vista Chinesa. Lá em cima fica mais fresco - no bom sentido, claro - e tem as duchas e as cachoeiras. E o visual sem igual.

Mulheres de Chico - As componentes se auto-intitulam como um "bloco". Para mim, é mais que isso. Trata-se de um conjunto bem afinado centrado nos arranjos de percussão, só de (belas) mulheres, com repertório selecionado do Chico Buarque. O alto astral é certo, e para os ouvidos mais apurados vale a pena ver o que as moças fizeram com músicas como "Tanto Mar", "Roda Viva" e "Construção". A agenda delas é cheia. Consulte o site www.mulheresdechico.com.br.

Tocar um instrumento - Nunca é tarde para aprender a tocar um instrumento. E, se for de percussão, consulte a programação de cursos e clínicas da Maracatu. O espaço fica em Laranjeiras, na rua Ypiranga. Veja o site www.maracatubrasil.com.br. Você poderá até pensar em ser ritmista no próximo Carnaval.

E se chover ? - E não se iludam, porque teremos fins de semana de chuva. Se a opção for ficar em casa, a dica é se associar à Super Video. A locadora tem duas lojas na Zona Sul do Rio de Janeiro: uma em Ipanema e outra no Humaitá, garantindo cobertura de leva-e traz do Flamengo à Gávea. Tem de tudo: lançamentos, filmes-pipoca, filmes-cabeça, filmes de autor, raridades, blu-ray e ainda "aluga" curtas nacionais gratuitamente. Informações no site www.supervideobrasil.com.br.
Outra opção é reunir amigos, fazer uma vaquinha e comprar um monte de coisas para comer no Talho Capixaba, no Leblon, ou em algumas lojas dos supermercados Zona Sul , como a da Dias Ferreira, a da Praça General Osório, a do Leme e a do Parque das Rosas.

Calçadão e ciclovias - Dia 19 de outubro começa o horário de verão. Aproveite a malha de ciclovias, do Santos Dumont ao Pontal, incluindo Lagoa e algumas ruas de Copacabana e Botafogo, e saia no horário do trabalho e dê uma pedalada. Se o negócio for andar, ande, e se for correr, corra. Além de saudável ( aliás, os cariocas não valorizam o fato de terem em sua orla o ar menos poluído de qualquer cidade com mais de 5 milhões de habitantes do mundo !), dá para ver e ser visto. Mas respeite as regras porque ultimamente as ciclovias estão virando terra de ninguém, de tanto abuso.

Off-Rio - Búzios e Angra valem se o cidadão estiver disposto a sair em horários esquisitos ou tolerar engarrafamentos. A Serra é a melhor pedida, antes que tudo fique tomado e reservado pelas férias de verão. Se você tem um carro bom de tranco, vá a Visconde de Mauá e ao Parque da Bocaina. Em Mauá não deixe de visitar o Alcantilado e na Bocaina, o Vale dos Veados. Se seu caso é ficar um pouco menos escondido e com acesso mais fácil, Itaipava e o trio Mury/Lumiar/São Pedro da Serra são as dicas. Em Itaipava, se esbalde nos restaurantes. Em Mury, idem. Em Lumiar e São Pedro se informe sobre as cachoeiras e os roteiros de aventura. Uma dica para os mais animadinhos é o Parque Estadual de Ibitipoca, perto de Juiz de Fora, com sua paisagem única e trilhas dentro, eu disse, dentro mesmo, de riozinhos do parque.

E aproveite a Primavera. Que como disse o Beto Guedes, "abre a janela do meu peito, porque a lição sabemos de cor, só nos resta aprender"...

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Zelaya e a falta de zelo

Em 28 de junho deste ano, escrevi aqui mesmo sobre a mudança abrupta no comando do Executivo de Honduras.
Me surpreendi ao reler o que tinha sido escrito. Na minha opinião àquela época, o assunto era merecedor de muito pouco interesse da opinião pública, mas eu, de alguma forma, havia me interessado. Na época li sobre a História de Honduras e cheguei a analisar dados da sua economia, de sua balança de pagamentos e de sua balança comercial. Concluí que um país tão pequeno, cuja população tem 45 % de jovens menores e 15 anos, e tão dependente dos Estados Unidos economicamente não poderia ter sido o cenário de um "golpe de estado" tão limpo quanto foi o afastamento de Manuel Zelaya do poder. Senão, relembremos: o tal Zelaya, à margem da Suprema Corte e do Legislativo, resolveu sustentar um plebiscito sobre a extensão do mandato presidencial, fato que não foi bem aceito nem pala Suprema Corte e pelo Legislativo, o que parece bastante óbvio, mas recebeu também a oposição das Forças Armadas. Pois bem, com o impasse criado e com o Presidente Zelaya descumprindo visivelmente o rito constitucional do País, um grupo se articulou e, em vez de mandar o Zelaya desta para melhor, como costuma acontecer na América latina, resolveu exportá-lo compulsoriamente para a Costa Rica. Sem uma gota de sangue derramado sequer.
Algum tempo depois, atendendo a apelos de Hugo Chávez e da condenação que o "golpe" recebeu da OEA é que começaram os distúrbios em Honduras. Zelaya foi recebido em alguns países. Inclusive no Brasil.
E então a história começou a despertar interesse por aqui.
Mas eu jamais poderia imaginar, em 28 de junho, que o Brasil se envolveria de forma tão intensiva, controversa e central em um imbroglio em um país pequeno e distante, que deveria despertar interesse menor ou pequeno na geopolítica racional de um governo brasileiro. Nem em meus piores pesadelos imaginaria que o que escrevi até com ironia tinha o profético tom de causar o embate ideológico que se sucedeu e culminar com a estapafúrdia situação atual. Senão, mais uma vez, relembremos: Zelaya, já na Costa Rica, recebeu primeiro o apoio incondicional do alucinado Hugo Chávez, e depois dos líderes adeptos da "democracia direta", o inca equatoriano e o bugre boliviano. Uma adesão pouco prudente e estranha, a da presidente do Chile, Michele Bachelet, depois veio o anúncio da OEA condenando o golpe, aí sim entrou em cena o Brasil. O retrado da entrada do Brasil no clamor internacional pode ter sido só resultado do caráter semanal do badaladíssimo programa de rádio "Café com o Presidente". Mas o tom do Brasil foi duro. Depois vieram os países do Primeiro Mundo, mais exatamente França e Estados Unidos, com manifestacões tímidas.
Bom, lamento profundamente dizer que todas estas manifestações estavam inundadas de salvas à democracia, mas vazias em conhecimentos básicos sobre o caso hondurenho. Primeiro, Zelaya é um populista, adepto da ideologia da democracia anti-democrática em voga no hemisfério, e pesavam sobre ele denúncias de corrupção e perepetuação no cargo. Em segundo, porque o bigode e o chapéu dele formam um figurino que é impossível associar a alguém normal. Em terceiro, porque manobrava para driblar a Constituição. Em quarto, porque ele se isolou dos dois outros poderes tradicionais da República, o Judiciário e o Legislativo. Em quinto, porque ameaçou as instituições todas com a elite da Polícia. E em sexto, porque a Constituição hondurenha, por mais esquisita que seja, prevê a remoção do Chefe do Executivo em caso de descumprimento de duas decisões da Suprema Corte, como Manoel Zelaya se achou capaz de fazer. Então, cabe a pergunta: foi golpe ?
Mas vá lá, o rito hondurenho é sumário demais. Para comparar, Collor teria perdido o timão do navio em duas semanas, se fosse hondurenho e, por aqui, só foi posto no bote salva-vidas uns meses mais tarde. E ninguém achou anti-democrático.
A ignorância então pareceu dar lugar ao casuísmo ideológico lulo-bolivariano. Afinal, Zelaya joga no time de Lula, de Chávez, de Morales, de Kirchner, do Ortega, do Correa. E ganhou visitas com status de chefe de Estado em todos este países, inclusive em Brasília.
Tentou voltar à Honduras uma vez. Ficou no Posto de Fronteria.
E tentou uma segunda, aparecendo na embaixada...do Brasil !!!
Agora que a coisa está esquentando é que resolveram analisar o caso com mais calma. Mas agora é tarde. E o mais triste de tudo: o Brasil  ocupa posição central e dúbia na questão. Afinal, o sujeito é hóspede da embaixada brasileira em Tegucigalpa.
Alega-se que Zelaya está asilado na Embaixada. Mas quem é idiota de acreditar nisto ? Asilo é matéria difusa no Direito Constitucional e no Direito Internacional. O cidadão que pede asilo em uma representação diplomática estrangeira, o faz porque não reconhece que suas garantias pessoais estão sendo respeitadas pela autoridade de seu país e nascimento. Mas cada caso é um caso. Um "serial-killer", um traficante ou um pedófilo, pode se sentir assim e pedir asilo, o que não quer dizer absolutamente que esteja certo. O Cesare Battisti, por exemplo: era militante do falido PCB italiano, e em sua ideologia cabia a praxis de atentados que subtraíam vidas de pessoas que nada ou pouco tinham a ver com o diálogo político. Ele merece a condição de refugiado político no Brasil ? Certamente não. Seja lá o que for decidido no Supremo, ele sabe, eu sei, o Tarso Genro sabe, e a Itália toda sabe que o sujeito matou gente.
Mas voltando ao Zelaya, asilado do quê ? De ter tentado entrar num país que, apesar de exótico, o inclui na pauta de exportações com pleno respaldo constitucional e com rara convergência de interesses, de tão fulminante que foi ? Mais uma vez, eu sei, o Lula sabe, o Zelaya sabe e todo mundo sabe que a forma certa era obter o respaldo da comunidade internacional. E ele estava conseguindo !!!
Voltar ao país parece pouco oportuno e, sobretudo, pouco patriótico, pois o confronto seria certo. Era óbvio que sua volta mergulharia Honduras numa confusão só. E o Brasil, salvo maiores explicações, parece ter patrocinado o tumulto !!!  Sinceramente, eu sei, o guarda da Embaixada brasileira sabe e o Amorim sabe que o sujeito não apareceu disfarçado, às duas da manhã, tocando a campainha da Embaixada e avisou pelo interfone:
- Hola, que tal ? Acá es Zelaya ? Tienes abrigo ?
E a porta se abriu e ele entrou.
E agora a batata assa à hondurenha. E está claro que o Brasil sozinho não resolve.
Ou seja, o asilo do Zelaya é questão de zelo. Ou de falta dele.

sábado, 19 de setembro de 2009

Uma pequena raridade em casa

Em uma noite de maio deste ano, estava a trabalho em São Paulo e não tinha nem programa nem disposição para sair à noite. Combinei então com um amigo de nos encontrarmos em horário de Jornal Nacional, comer alguma coisa, jogar conversa fora e, para unir útil ao agradável, num shopping, onde ele poderia substituir um celular avariado, e onde eu desejava ver uma lojinha de modelismo que já conhecia há tempos.
O acervo da lojinha estava muito fraco. Mas o balconista me ofereceu duas peças de colecionador que estavam em consignação. Eram duas miniaturas de carros pilotados por Ayrton Senna em sua carreira.
Depois da morte de Senna, duas fábricas de miniaturas européias lançaram coleções completas de todos os carros que Senna pilotou em vida, até karts.
Fui apresentado então a uma Williams antiga onde Senna fez seu primeiro teste na F1 em 1983 e a um Porsche 956 preto e amarelo. O Porsche me chamou a atenção. Desconhecia o fato de Senna ter pilotado protótipos do tipo Le Mans. Desembolsei a grana pedida pelo colecionador, digamos que tenha sido 10 contos de réis, e levei a miniatura.
Fui pesquisar sobre a história desta aparição estranha de Senna na categoria protótipos. Muita gente diz muita coisa. Juntei mais de dez fontes e concluí que as coisas aconteceram mais ou menos assim.
Em 1994, Senna era um novato na F1 e estava na Toleman. Foi o ano da célebre corrida submarina de Mônaco, que Senna ganharia caso não tivesse sido suspensa. Ele já era um fenômeno reconhecido, pela carreira na F-3 inglesa, mas duvidava-se de sua rápida afirmação na F1, que contava com um esquadrão de feras como Prost, Lauda, Piquet, Rosberg e o ascendente Mansell. Para completar, no início da temporada, Senna mostrou-se franzino e despreparado fisicamente para um longo GP num carro de ponta ( Senna percebeu isso rápido e tornou- se uma referência no preparo físico para pilotos de Grande Prêmio).
Antes do GP de Mônaco em que ele assombrou o mundo, Senna flertou com outras possibilidades. A primeira delas foi com a equipe Joest de protótipos, hoje a grande equipe da Audi, mas que na época era uma equipe independente da Porsche. Senna recebeu um convite para correr algumas provas pela equipe Joest, sendo que, uma delas, inclusive a tradicional 24 horas de Le Mans daquele ano. Como os calendários atrapalhavam a F1, Senna não podia aceitar.
Até que, logo após o GP de Mônaco, com fama de revelação confirmada, Senna recebeu um convite para participar de um festival da Mercedes-Benz em Nurburgring, que, além de marcar a reinauguração do autódromo teria uma competição com um formato especial: pilotos de várias épocas e categorias correriam duas baterias em Mercedes C190 idênticos. Pois bem: Senna pulverizou a concorrência e faturou o Festival, em cima de feras da F1, de Rallye e da categoria protótipos.
A Equipe Joest então insistiu para que Senna permanecesse mais uma semana em Nurburgring, para disputar os 1000 km, prova válida pelo Mundial. Senna aceitou, pois o calendário permitia e os comentários sobre sua performance o encheram de esperanças de ser bem sucedido nesta categoria também. Para completar, a Joest era a equipe a ser batida naquele ano, tendo vencido com o veterano Henri Pescarolo e Stefan Johansson em Le Mans. E Senna foi convidado para dividir o cockpit do Porsche 956, com número 7, exatamente com Pescarolo e Johansson.
Mas o resultado não foi bom. Largaram em nono lugar e logo após a largada, um defeito no carro o deixou nos boxes por oito voltas. A equipe terminou com um decepcionante oitavo lugar.
Senna disse ter gostado do carro, da potência do motor e da estabilidade em curvas, mas reclamou muito do peso do carro. Nunca mais pilotaria um carro da categoria Protótipo na vida.
Pois foi essa miniatura que adquiri, por curiosidade. O brinquedinho é de uma perfeição inacreditável como as fotos deste Blog ilustram. De quebra, aprendi uma história curiosa sobre este mito do esporte a motor do Brasil.
E, recentemente, fiz uma pesquisa para saber se muita gente tem uma miniatura semelhante. Um colecionador de Portugal me informou que esta miniatura não deve ter sido produzida em número maior que 100 unidades. Como ele divulgou lá para os amigos dele eu não sei, mas há cerca de quinze dias atrás, recebi um e-mail me oferecendo cinco vezes os dez contos de réis que desembolsei. Não vendi. Fiquei satisfeito de ter tido a sorte de ter uma pequena raridade em casa

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A onda das citações

E o Twitter muda os hábitos...
Tem uma verdadeira multidão que está utilizando os exíguos 140 caracteres para exalar aforismos, máximas, hai-kais, pensamentos, citações, reflexões.
E a consequência disto é que pensar muito e dizer pouco voltou a ficar na moda.
De repente, Confúcio, Balzac, Shakespeare, Oscar Wilde, Victor Hugo, Ralph Waldo Emerson, entre outros, estão sendo multiplicados, citados, twittados e até tendo seus direitos autoriais usurpados, posto que há muito pseudo-filósofo de plantão. A banalização das citações só encontra exceção, na minha opinião, em Millor Fernandes, que sempre se expressou assim e o continua fazendo em vários meios de comunicação, inclusive no Twitter.
No meu caso, e isto pode ser visto no meu perfil já há muito tempo, da mesma forma que não tenho talento para textos longos, não tenho vergonha nenhuma de dizer que curti muito mais "Além do Bem e do Mal" do que "A Crítica da Razão Pura". Ou seja, prefiro ideias explicitadas de maneira curta e espirituosa a tortuosos exercícios de retórica, sem tirar ou acrescentar mérito a um ou a outro. Apenas questão de gosto pessoal.
Assim sendo, sempre colecionei citações. Tenho uma prateleira inteira de livros só de citações, desde aforismos de Nietzsche a coisas menos intelectuais como "Sementes de Reflexões". E resolvi preencher este espaço com algumas delas que considero muito especiais, seja pela ironia, seja pela sabedoria ou seja por qualquer outro motivo. Afinal, existem máximas que servem apenas para provocar o raciocínio e a criatividade.

Seja moderado em tudo. Inclusive, na moderação. - Horace Porter

Falsa modéstia é o rabo escondido com o gato de fora. - Millor Fernandes

Amigo verdadeiro é aquele que nos quer apesar de nada. - Sofocleto

A única diferença entre o santo e o pecador é que o santo tem um passado e o pecador tem um futuro - Oscar Wilde

Ordem, contra-ordem, desordem - Napoleão Bonaparte

Consciência é uma voz interna que nos adverte que alguém possa estar olhando - H. L. Mencken

Eu achei que estava errado uma vez, mas estava errado - Lee Iacocca

Inveja é aquilo que sentimos quando um sujeito estea saindo do dentista quando você está entrando - Samuel Szwarc

Ironia é uma forma sutil de ser mau - Berilo Neves

De quantas infâmias se formam um êxito ? - Honoré de Balzac

Perdoar é divino e é um bom negócio. - Gustavo Capanema

Quem não envelhece, morre novo. - Moncelo Almuli

Quem tem hábito de não carregar mágoas, nem se lembra do perdão - Anônimo

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Cotidiano no. 3, no. 4, no. 5...

A versão original

Hay dias que no se lo que me pasa. Eu abro o meu Neruda e apago o sol. Misturo poesia com cachaça. E acabo discutindo futebol. Acordo de manhã pão com manteiga e muito, muito sangue no jornal...
Mas não tem nada não, tenho o meu violão.

Minha paródia

Hay dias que no se lo que me pasa. Eu vejo na internet que não há sol. Misturo tudo sem cachaça. E prefiro o Rubinho num velotrol. Acordo de manhã e iogurte sem colesterol, e muito, muito roubo no jornal...
Mas não tem nada não, estou com o cu na mão.


Peguei emprestado parte de Cotidiano no. 2, de Vinicius e Toquinho. Ficou muito pé-quebrado. Mas não era a ideia chegar ao nível do poetinha. A ideia era a substituição do espírito de conformismo do original pelo susto. Sim, em vez de pegar meu violão, reflito sobre o que está realmente acontecendo no mundo. Está tudo muito louco, desordenado, surpreendente. Os fatos e informações se sucedem, me bombardeiam diariamente e estão me deixando completamente estupefato. Será que há uma conspiração genial e abrangente para subestimar completamente meu discernimento e minha compreensão, e diante de tantas coisas absurdas, simplesmente me assustar e me deixar em estado de torpor por falta de poder de reação ?
Senão vejamos: Belchior sumiu, apareceu e, claro, sumiu de novo. Berlusconi promoveu orgias romanas, sem ser imperador romano e o país onde fica o Vaticano aceita. Na Venezuela, o governo de Chávez persegue órgãos de imprensa, e Oliver Stone faz um filme transformando o esquisito bolivariano em herói. Na Argentina, em plena discussão de um projeto de Lei vital para as já abaladas pretensões do casal K&K, a os fiscais da Receita, em massa, resolvem vasculhar o Clarín, veículo de imprensa referência do país. Rubinho condena Nelsinho por bater de propósito mas se esquece que deu passagem para Schumacher...de propósito. Quem formulou o marco do Pré-Sal, se esqueceu de ver se existe uma empresa chamada "Petrosal" e acha que em 90 dias, coisas um pouquinho mais complicadas que isto deverão estar discutidas. O Senado ultrapassou os limites de falta de nobreza, inclusive com farta distribuição de cartões amarelos e vermelhos e o assunto acabou em duas semanas. O bispo Macedo e sua igreja estão entupidos de denúncias e críticas, mas o Presidente não se sente encabulado ao aparecer do lado de notórios bispos da mesma igreja para introduzir mais uma festa religiosa no calendário oficial do Brasil. Todo os dias, no Rio de Janeiro, tem protesto que começa na Candelária, e termina onde a Polícia resolve baixar o sarrafo. Santa Catarina, que era atacada por furacões vindos do mar, agora é atacada também por tornados vindo da Argentina. Deu onda de 1 m ( honesto) no Tietê. O time do Dunga está jogando bem. O Brasil ia comprar 38 bilhões de dólares em balas dum-dum francesas anunciados em pleno 7 de setembro, mas ainda estuda gastar esta bagatela em garruchas norte-americanas ou armamentos eróticos suecos. O Serra tem 50 % nas pesquisas e o Aécio 10%, mas o PSDB não sabe ainda quem deve ser o candidato. O advogado do Collor aparece degolado, empalado e mutilado, junto com a família toda, e é apenas latrocínio. O Protógenes se filia ao PC do B. O Sarney acha que na internet não deve haver limites para os políticos ( como se tivessem algum...). O Mantega diz que quem não seguir o programa de Lula, depois de seu mandato, "vai apanhar muito". O Rio é favorito para sediar Olimpíadas. Um pombo entrega uma mensagem mais rápido que um e-mail na África do Sul, onde em 2010, deverá ter uma Copa, com vuvuzelas e tudo.
E querem que eu fique calmo...


sábado, 5 de setembro de 2009

Petróleo mal temperado

Em o "Cravo bem Temperado", Bach inovou em composição. Abusou de contrapontos, usou dissonâncias. Isso soava muito estranho na época de vida do célebre compositor alemão. Mas, a informação é introdutória e voltaremos ao Johann Sebastian lá pelo final do texto.
A formação geológica onde recentemente foram descobertas grandes reservas de petróleo alardeadas pela empresa estatal brasileira e pelo Governo Brasileiro foram batizadas de reservas da camada Pré-sal. O nome tem a ver com o posicionamento geológico destas reservas, que ficam em profundidades superiores a uma extensa e insistentemente inconveniente camada de sal que, por sua vez, está em profundidades maiores que as reservas de petróleo já encontradas no Brasil, notadamente na plataforma continental, em alto-mar.
Ao contrário do que dizem, não se trata exatamente de uma benção. Não gosto de Geologia e acho que meus 5,75 leitores também não devem achar interessante o tema. Mas me parece natural que, se essas acumulações de petróleo foram encontradas ao largo da costa da Lulolândia, também devem ocorrer em outros países e lugares. Por exemplo, Angola. Lá tem Pré-sal. No Golfo do México tem também. E em outras situações, descobertas similares devem ocorrer. Se são comerciais ou não, cabe avaliar caso a caso. As do Brasil, ao que parecem, são, salvo uma queda livre dos preços do petróleo no mercado internacional. O raciocínio é simples, e qualquer cidadão que tenha resolvido furar um poço artesiano no quintal de casa, sabe. Quanto mais profundo o lençol de água, mais caro é o poço. E este petróleo do Pré-Sal está bem longe da superfície habitada pelos terráqueos. Então custa mais caro que o petróleo que não está.
Se o preço do petróleo cair, trazer essa benção para a superfície pode perder o caráter divino e se tornar maldição.
Isto dito, de forma pouquíssimo técnica, partamos para relembrar Daniel Yergin, autor do primeiro compêndio histórico e econômico sobre o petróleo, de respeito e isento. Ele publicou seu best-seller "The Prize" em 1982 e ganhou o Pulitzer no ano seguinte. No livro está narrada com precisão de detalhes a história do petróleo desde 1861, ano que marca a introdução do "óleo de pedra" como mercadoria, na Pennsylvania, até a véspera da publicação. Depois foi reeditado e atualizado até o início da década de 90, quando George Bush, o pai, teve uma escaramuça com o Iraque, por causa da invasão do Kuwait, mas ao contrário do filho, alguns anos depois, em vez de varrer o Iraque e mandar desta para melhor a turma de Saddam Hussein, se deteve e lançou uma política de apaziguamento com os países do Oriente Médio.
Yergin nos conta bastidores das manobras que permitiram o desmonte do monopólio da Standard Oil, de Rockefeller. Conta também como Stálin, líder sindicalista georgiano, explodiu tudo na província petrolífera de Baku para contestar o regime monárquico russo, em 1905. Conta também como foi a criação da Opep. Enfim, nos dá o sentido que a história do petróleo é uma história de poder, de guerras, de raciocínios complexos de geopolítica, influências, controles econômicos das nações desenvolvidas sobre as nacões pobres em desenvolvimento e ricas em petróleo.
Pois bem. Logo após a publicação do livro, os preços do petróleo apresentaram uma queda acentuada. O perigeu foi em 1998 e 1999 quando o barril chegou a ser negociado a US$ 12,00.
Daí para a frente, e acompanhado por uma crescente preocupação sobre mudanças climáticas, o petróleo continuou estratégico, mas adquiriu um caráter de "commodity livre" cada vez mais acentuado. Com isto, provocará menos guerras, senão nenhuma, e o estratégico não é mais ser abençoado por Alá para ter grandes reservas.
Os preços passaram a flutuar ao sabor da oferta e demanda, já que os lados fornecedores e compradores, que sempre foram cartelizados, racharam, uma vez que não havia convergência de interesses. A OPEP não conseguia disciplinar seus associados a respeitaram a cotas de produção. As grandes empresas petrolíferas ( sempre acompanhadas da alcunha "'Sete Irmãs", embora o número possa ter variado de 5 a 20, dependendo do critério) começaram uma briga de foice pelas fatias de mercado, e buscaram fusões para sobreviver, como a Exxon e a Mobil, a BP e Amoco, a Chevron e a Texaco, a Repsol e a YPF, a Total/Fina/Elf.
Em 2008 o petróleo atingiu US$ 140, recorde histórico, mas despencou com a surpreendente crise de liquidez a cerca de US$ 35. Deve se estabilizar em torno dos US$ 70 a US$ 100. Mas começa a sofrer fortes pressões por ser o vilão na emanação de gases do efeito estufa. Além disso, seria de uma tolice absoluta supormos que grande economias como a japonesa, a norte-americana, a francesa e a alemã já não diversificaram, ou estão em vias de diversificar, suas matrizes energéticas para não ficarem reféns de hidrocarbonetos. Novas tecnologias limpas e renováveis surgem em velocidade assustadora. E é pouco provável e pouco prudente acreditar que o petróleo terá a mesma importância que tem hoje daqui a uns 30 anos. O petróleo bruto está virando uma "commodity livre" e, em breve, com outras substitutas para competir.
Mas, voltemos ao Pré-Sal. Diante disto, e considerando que o Brasil mudou seu marco regulatório monopolístico e anacrônico ( tinha sido estabelecido em 1953...) em 1997, seria necessária mesmo uma miríade de Projetos de Lei, confusos, estatizantes, que mexem com estruturas que se consolidam há somente dez anos no Brasil, demandam debates legislativos complexos e carregados de ideologias e pouco conhecimento técnico para mudar, de novo, o marco regulatório porque foi encontrada uma nova reserva ? Seria ?
Se fosse uma necessidade absoluta e urgente, seria interessante também, por equivalência de precaução, definir políticas e marcos regulatórios para o uso da energia nuclear, para o desenvolvimento de centros de pesquisas de fontes de energia das marés, de origem geotermal e de células de Hidrogênio, por exemplo, estas sim, mudando em técnica, e economicidade em grande velocidade.
Petróleo com sal, sem sal, com pimenta, com cominho, manjericão ou qualquer ingrediente deste tipo, ao entrar na Refinaria, sai como combustível do mesmo jeito. Ou como insumo para a indústria petroquímica, que, por sinal, reavalia seu portfolio de insumos também com bastante velocidade, buscando alternativas aos derivados de petróleo.
Se, há, de fato, preocupações sobre a distribuição da riqueza proveniente destas novas reservas, o marco regulatório que aí está atende plenamente, prevendo inclusive regimes excepcionais que poderiam ser aplicados em um caso ou outro. E, caso se mostrassem insuficientes, há formas menos bruscas e sem alteracão do texto constitucional, com previsão expressa em Lei que, já hoje, podem adequar as regras.
Na edição do marco regulatório do Pré-Sal sobrou acomodação de interesses e há senso de oportunismo político explícito. E é desnecessário e retrógrado. O petróleo caminha para um processo de "commoditização" livre, com preços e oportunidades fluindo conforme o mercado estabelece, e não conforme um governo ou uma empresa estabelece. Não é possível que isto não esteja visível.
Além do sal, o governo adicionou tanto tempero na nova Lei, que o prato está difícil de ser engolido.
E voltamos a Johann Sebastian Bach, que temperou seu cravo para produzir uma das peças clássicas mais importantes da Hitória da Música.
Essas novas regras do Pré-Sal são tão temperadas que, tal como um Bach às avessas, estamos correndo o risco de produzir um dos sistemas de regulação de uma atividade extrativista que deixará de herança a exposição das mentes que o elaboraram como patéticas, atrasadas, vistas aos olhos do mundo como excentricidades. E pior, deixar uma parte desta riqueza lá onde está, por excesso de tempero.
O dinheiro não gosta de lugares excêntricos. O mito do petróleo como garantidor de soberania e independência foi para o ralo há duas décadas. Petróleo é empreendimento, é atividade que gera lucro. Não tem pátria, não tem coração.
O cravo de Bach não era um fim em si mesmo. O cravo de Bach era um instrumento. Conhecemos o gênio de Bach pelo que ele fez ao tocar cravo. Não se conhecem gênios que fizeram alguma coisa na ordem inversa, ou seja, serem tocados pelos seus instrumentos.
Até a próxima descoberta geológica, que deve gerar outra extensa, espetacular e desnecessária discussão. E que a carga de tempero seja mais apetitosa.