sábado, 19 de setembro de 2009

Uma pequena raridade em casa

Em uma noite de maio deste ano, estava a trabalho em São Paulo e não tinha nem programa nem disposição para sair à noite. Combinei então com um amigo de nos encontrarmos em horário de Jornal Nacional, comer alguma coisa, jogar conversa fora e, para unir útil ao agradável, num shopping, onde ele poderia substituir um celular avariado, e onde eu desejava ver uma lojinha de modelismo que já conhecia há tempos.
O acervo da lojinha estava muito fraco. Mas o balconista me ofereceu duas peças de colecionador que estavam em consignação. Eram duas miniaturas de carros pilotados por Ayrton Senna em sua carreira.
Depois da morte de Senna, duas fábricas de miniaturas européias lançaram coleções completas de todos os carros que Senna pilotou em vida, até karts.
Fui apresentado então a uma Williams antiga onde Senna fez seu primeiro teste na F1 em 1983 e a um Porsche 956 preto e amarelo. O Porsche me chamou a atenção. Desconhecia o fato de Senna ter pilotado protótipos do tipo Le Mans. Desembolsei a grana pedida pelo colecionador, digamos que tenha sido 10 contos de réis, e levei a miniatura.
Fui pesquisar sobre a história desta aparição estranha de Senna na categoria protótipos. Muita gente diz muita coisa. Juntei mais de dez fontes e concluí que as coisas aconteceram mais ou menos assim.
Em 1994, Senna era um novato na F1 e estava na Toleman. Foi o ano da célebre corrida submarina de Mônaco, que Senna ganharia caso não tivesse sido suspensa. Ele já era um fenômeno reconhecido, pela carreira na F-3 inglesa, mas duvidava-se de sua rápida afirmação na F1, que contava com um esquadrão de feras como Prost, Lauda, Piquet, Rosberg e o ascendente Mansell. Para completar, no início da temporada, Senna mostrou-se franzino e despreparado fisicamente para um longo GP num carro de ponta ( Senna percebeu isso rápido e tornou- se uma referência no preparo físico para pilotos de Grande Prêmio).
Antes do GP de Mônaco em que ele assombrou o mundo, Senna flertou com outras possibilidades. A primeira delas foi com a equipe Joest de protótipos, hoje a grande equipe da Audi, mas que na época era uma equipe independente da Porsche. Senna recebeu um convite para correr algumas provas pela equipe Joest, sendo que, uma delas, inclusive a tradicional 24 horas de Le Mans daquele ano. Como os calendários atrapalhavam a F1, Senna não podia aceitar.
Até que, logo após o GP de Mônaco, com fama de revelação confirmada, Senna recebeu um convite para participar de um festival da Mercedes-Benz em Nurburgring, que, além de marcar a reinauguração do autódromo teria uma competição com um formato especial: pilotos de várias épocas e categorias correriam duas baterias em Mercedes C190 idênticos. Pois bem: Senna pulverizou a concorrência e faturou o Festival, em cima de feras da F1, de Rallye e da categoria protótipos.
A Equipe Joest então insistiu para que Senna permanecesse mais uma semana em Nurburgring, para disputar os 1000 km, prova válida pelo Mundial. Senna aceitou, pois o calendário permitia e os comentários sobre sua performance o encheram de esperanças de ser bem sucedido nesta categoria também. Para completar, a Joest era a equipe a ser batida naquele ano, tendo vencido com o veterano Henri Pescarolo e Stefan Johansson em Le Mans. E Senna foi convidado para dividir o cockpit do Porsche 956, com número 7, exatamente com Pescarolo e Johansson.
Mas o resultado não foi bom. Largaram em nono lugar e logo após a largada, um defeito no carro o deixou nos boxes por oito voltas. A equipe terminou com um decepcionante oitavo lugar.
Senna disse ter gostado do carro, da potência do motor e da estabilidade em curvas, mas reclamou muito do peso do carro. Nunca mais pilotaria um carro da categoria Protótipo na vida.
Pois foi essa miniatura que adquiri, por curiosidade. O brinquedinho é de uma perfeição inacreditável como as fotos deste Blog ilustram. De quebra, aprendi uma história curiosa sobre este mito do esporte a motor do Brasil.
E, recentemente, fiz uma pesquisa para saber se muita gente tem uma miniatura semelhante. Um colecionador de Portugal me informou que esta miniatura não deve ter sido produzida em número maior que 100 unidades. Como ele divulgou lá para os amigos dele eu não sei, mas há cerca de quinze dias atrás, recebi um e-mail me oferecendo cinco vezes os dez contos de réis que desembolsei. Não vendi. Fiquei satisfeito de ter tido a sorte de ter uma pequena raridade em casa

3 comentários:

  1. Puxa, que história legal. Ótima para um fim de noite de sábado em que estou por aqui sozinho perdido.

    O pior é que me lembro da história. O escriturário alemão que é candidato a tomar conta dos meus alfarrábios ainda não ocupou a vaga mas confesso que não tinha a menor idéia em qual escaninho do cérebro estava arquivada. E agora que me reavivou, alguma outra história deve ter io para o limbo pelo sistema de rodízio aqui implantado.

    Mas onde estava eu? Ah, sim na sua miniatura do fusca amarelo. Estes carros eram lindos. Naquele tempo não se perdia tempo com as babaquices ovais americanas. Hoje ando revoltado com as corridas em ovais. Acho que só vou acompanhar ralies e corridas com curvas para lá e para cá.

    Mas sabe o que realmente me motivou a responder aqui? É que fiquei curioso com a sua coleção de miniaturas. Pode fotografá-las? Põe assim um de ladinho do outro ou como se fosse em uma curva de Brands Hatch. E faz outro post sobre elas.

    Falou?

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  2. Oi, Elevê, beleza o teu blogue... não fazia idéia dessa faceta do maior piloto brasileiro de todos os tempos. Grande pesquisa, também.
    Passarei a acompanhar mais de perto a tua verve.
    Abraço,
    Marcelo
    mrich.1@hotmail.com

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  3. Muito legal esse post, LV! Bacanérrimo!!

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