quarta-feira, 29 de julho de 2009

A Crítica à Meritocracia Pura

Este texto é dedicado a pessoas, profissões, coisas, bichos, enfim, qualquer coisa que passa quase totalmente despercebido, mas que tem importância fundamental no contexto em que se encontram.

Oboé - Quase todo mundo já assistiu a uma orquestra tocar. Viu o maestro, viu uma dezena de violinistas, viu até o contra-baixo. Se tem solista, viu o piano. Se tem um instrumento pouco usual, também viu, como a harpa, por exemplo. Mas, perdido ali no meio dos instrumentos de sopro, mais exatamente no naipe das madeiras, da qual também fazem parte a flauta, o clarinete, o saxofone e o fagote, está o oboé. O oboé clássico tem uma sonoridade melancólica. Os oboés piccolo tem um som de instrumento de sopro árabe. E toda orquestra tem um oboé !!! Trata-se de um instrumento antigo, cujo nome não vem do árabe, como muitos pensam e sim do francês huitbois, ou alto sopro, pelo seu timbre mais agudo. E o que tem o oboé de mais ? Simples. Apesar de dificílimo de tocar, ele não desafina. E o oboé clássico emite o som neutro em Lá. Então, antes do maestro entrar para um concerto, entra o violinista spalla, ou primeiro violinista, que fica à esquerda do maestro e faz um sinal para o oboísta (nome do cidadão que aprendeu a tocar oboé) emitir um Lá. Ele emite o Lá e então todos os outros músicos tocam o Lá e fazem a afinação final. Só aí entra o maestro. Nos intervalos, se o maestro percebe algo estranho em algum instrumento, cutuca o spalla ( espécie de maestro regra três), e lá vai o oboé de novo atacar de Lá, para todos se afinarem. O oboé é, portanto, uma espécie de diapasão da orquestra.

Montador de Punga - Punga é aquele cavalo mansinho que chega perto de um puro-sangue mais nervosinho, antes ou depois de um páreo, normalmente porque o jóquei que monta o puro-sangue está tendo algum pequeno problema para levar sua montaria ao destino certo. O montador do punga se encarrega de, além de levar o punga, claro, controlar o outro cavalo mais arisco. Antes do páreo, fica ali atrás do "starting gate", ajudando nos trabalhos de colocar os mais arredios nos boxes de partida. Então, o montador do punga, que não aparece nem no rodapé do programa de uma reunião ( como se chamam as sequências de páreos), trabalha em todos os páreos, corta a mão tentando segurar o outro cavalo nervoso, às vezes vai ao chão, ganha menos de salário do que custa a ração dos puro-sangues, mas sem ele ia ter muito "barata voa" antes e durante o cânter, nas baias, no "starting gate"...ou seja, sem o punga e, principalmente, sem o montador do punga um páreo poderia levar horas para ser preparado.

Proeiro - Proeiro é o sujeito que faz parte da tripulação de um veleiro mas não é o comandante. Pau para toda a obra. Seus requisitos são: agilidade de macaco, força de elefante, olhos de gavião, ouvido aguçado e sonar acoplado, resistência etíope, pescoço de girafa, autonomia infinita sob a água, peso ideal, sem uma grama a mais ou a menos, e total insensibilidade à dor. Tem que ter uma capacidade de levar broncas que são capazes de revolver dos túmulos umas quatro gerações de ancestrais e ficar quieto. Levar a culpa se a regata foi perdida e ser esquecido se a regata for ganha. Não levanta o troféu e não lê o nome na lista de resultados. Mas um comandante não veleja sem eles. Tem alguns que até cumprimentam e agradecem aos seus proeiros em determinadas situações. Mas são raros.

Rolamento - Entre o eixo e a roda vai uma coisa chamada rolamento. Só serve para que o eixo e a roda não se desgastem. Quando olharem um carro, imaginem que entre o eixo e as rodas existem dois anéis que servem de "trilhos" para bilhas, ou roletes deslizarem. Eles existem para que os eixos não durem apenas alguns quilômetros e as rodas não se acabem com o atrito. Por serem compactos, os rolamentos são muito bem lubrificados e resistem a muitas pancadas e intempéries. No entanto, quando um dá defeito, começa a roncar e o dono do carro, via de regra fica irritado. Em primeiro lugar, pelo barulho insistente e que aumenta mais ainda quando a velocidade aumenta. Em segundo lugar, porque é uma peça cara. Mas pouco se leva em consideração a folha de serviços prestados pelo rolamento ao longo de sua vida útil. Aguenta porrada, lama, água, buraco, pneu furado, e, salvo mau uso extremo, é uma das últimas coisas do carro que vai quebrar. Mas não adianta, quebrou, é xingado, jogado no lixo impiedosamente e lembrado como vilão. Eu já vi fanático por automóvel guardar como peça de museu virabrequim, pistão, válvula, e até cano de descarga. Rolamento eu nunca vi ninguém guardar.

Gandula - Não joga, é xingado, apanha às vezes, não ganha salário, mas sem eles um jogo de futebol duraria uma eternidade. Com jogadores como o Lúcio, o Edcarlos e o Obina, as bolas iriam muito frequentemente ir parar muito longe. Os gandulas resolvem este problema, devolvendo as bolas rapidamente. Bem, quando o time da casa está ganhando os gandulas diminuem a velocidade ou jogam bolas em quantidade superior à desejada que é de 1 (uma) bola apenas. E quando o time da casa está perdendo alguns gandulas se empolgam indevidamente. Antigamente ainda havia o prêmio de poder estar perto dos craques e ver o jogo de graça, mas como hoje não existem mais muitos craques e os que existem podem ser vistos até em biroscas da Vila Cruzeiro, com travestis ou em boates, e a Gatonet é muito mais legal que ir ao jogo, nem isso vale mais a pena. Então, atualmente ser gandula é um ato de desprendimento absoluto.

Barata - Bicho que não serve para nada, mas nada mesmo e dizem que em caso de hecatombe atômica só sobreviveriam as baratas e o Oscar Niemeyer. No entanto, as baratas prestam dois favores inestimáveis. O primeiro: se aparecer em restaurante, a conta sai de graça. E segundo: se você matar uma barata na frente de uma namorada nova, pronto , você é o novo super-herói dela, um deus grego, um Maciste, um ser imbatível diante das maiores forças da Natureza.

É só olhar em redor e mais coisas importantíssimas aparecerão e, questão básica e imediata: tem o reconhecimento que merece ?

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Serginho não é um "virtuose"

Sergio Dutra dos Santos, de 34 anos, nascido na periferia pobre de São Paulo, detentor de 1,85 m de altura. Acabam aqui os dados biográficos oficiais pesquisados, porque este Blog vai ser escrito à base de emoção.
Este é o Serginho, o Escadinha, o líbero do time brasileiro de vôlei.
Ontem, em Belgrado, na Sérvia, este Sergio de nome brasileiríssimo se tornou o astro do vôlei mundial. O Brasil conquistou seu oitavo título da Liga, numa vitória épica sobre os donos da casa.
Ao longo do jogo, Giba fez valer o seu papel de capitão. Leandro Vissotto arrasou de oposto. Murilo, num quinto set primoroso, mostrou ao que veio. Bruninho, filho de Bernardinho, calou de vez os que acharam que ele estava lá pelo pedigree. O time ganhou sem ser favorito e depois de um ano de 2008 com algumas decepções.
Mas Serginho estava lá também. E quem viu o jogo não pode esquecer a atuação dele. Buscou bolas difíceis, fez defesas impossíveis, cobriu bloqueios sérvios que cairiam no chão brasileiro com certeza, ainda deu muito esporro em todos, até no Giba, também incentivou todos, e, quando a bola não ia de segunda para o Bruno, sem problemas, Serginho levantou. E bem. Até ponto de bola colocada o cara marcou.
Eu gostaria de saber se, no dia em que modificaram a regra do vôlei para permitir a entrada de um jogador exclusivo de defesa, que não poderia atacar, com uniforme diferente dos demais, que fica só nas três posições da linha de trás, que sai de quadra e retorna umas 60 vezes numa partida de 5 sets equilibrada, que não deve ser alto, e que, de cara, observou-se que era o "homem para levar porrada", alguém imaginou que um líbero ( nome impróprio para quem tem pouca liberdade em quadra) seria eleito o melhor jogador de uma competição internacional.
O vôlei é um esporte de plasticidade sensacional. A velocidade da bola, as jogadas sincronizadas, cortadas a 150 km/h, bloqueios de argamassa humana, fintas do levantador. Isso é espetacular. Defesas são espetaculares também, mas só algumas. E, só são espetaculares as que acontecem e com sucesso. As parciais, as que vão para fora, as "medalhas", essas não são nem registradas.
Mas Serginho começou a mudar isso. Já há uns cinco ou seis anos, quem acompanha vôlei tenta entender o domínio brasileiro neste século. Seriam atacantes brilhantes ? Seriam levantadores geniais ? Seria um bloqueio intransponível ?
Salvo uma estatística ou outra apontarem Giba o melhor pontuador, Gustavo o melhor bloqueador e Ricardinho o gênio dos levantamentos, aos poucos o segredo do Brasil foi sendo desfeito: é a defesa. Os times passaram então a dificultar ao máximo as coisas para a defesa brasileira com saques mirabolantes, ponteiros sensacionais que são acionados mais de 15 vezes num único set ( Poltavsky, Kraziski, Mijailovic, Leon...reparem o que esses caras são acionados num jogo contra o Brasil), meios de rede de 2,20 m...tudo vale para bater o Brasil.
A defesa no vôlei não interrompe o ataque adversário. O vôlei é o único esporte de equipe cujo contato físico inexiste. A defesa é uma percepção da tática de ataque adversária. É esperta, maliciosa, tenaz. Não precisa de força bruta, não precisa destruir a jogada adversária. Precisa evitar o contato da bola que chega com seu território, sua quadra. E, de quebra, jogar a bola para um lugar ou para o alto, que permita, o contra-ataque.
Este é o mapa mental do defensor. Bem...podemos dizer que ponteiros como Murilo e Giba são grandes defensores também. E são. Mas Serginho aprimorou a defesa a ponto de irritar os adversários. A bola tem seu contato evitado com o chão porque alguma parte do corpo de Serginho se colocou no caminho. E ainda fez mais: jogou-a para o alto, com tempo para o levantador armar um ataque.
Serginho se tornou o maior nesta arte: ele sabe como ninguém evitar que a bola vinda das mãos de um sérvio qualquer de dois andares de altura exploda na quadra. Ele sabe que quando Giba bate, deve se colocar ao seu lado e, se Giba for bloqueado, lá está ele para que a bola não caia no chão e mais uma tentativa seja possível.
Quem criou o líbero não sabia que ia existir um Serginho. Que de coadjuvante passou a protagonista. E que, de defensor, passou a ser o nascedouro de jogadas para os atacantes brilharem.
Ontem, isso foi observado. E muito bem observado. Até porque, se no final do jogo ainda tivessem dúvidas, Serginho encarregou-se de dirimi-las justamente no último ponto: ataque do Brasil e o bloqueio sérvio funciona e joga para o chão brasileiro, Serginho já estava lá, mas não era um movimento qualquer, e um peixinho providencial evitou o ponto sérvio e botou a bola magicamente na mão de Bruninho que inverteu o ataque e jogou para Giba apenas colocar, a meia-força, no chão, sim, no chão, no solo, na terra sérvia. Ponto. Set. Match. Campeonato. Dúvidas desfeitas. Serginho é o "cara", é escolhido o Most Valuable Player da Liga, o melhor jogador da Liga.
Do menino pobre que não sabia que esporte praticar, até ontem ser coadjuvante era o seu papel. Agora ele é o astro. E, finalmente, com reconhecimento justo, em uma competição dura. Sem a falsidade de pagamento de tributos tardios a "heróis secundários".
Valeu, Sergio Dutra dos Santos.
E que o vôlei e o Serginho nos inspirem a considerar o menos espetacular tão importante quanto o "virtuose".

domingo, 19 de julho de 2009

Os meus dez filmes preferidos ( ou dezessete).

No meu perfil que consta desta página está escrito que não listaria filmes preferidos porque seria muito longo. Me chamaram de "metido a besta", cinéfilo pretensioso, e coisas piores. Não tenho nenhuma pretensão de debater nada sobre existencialismo alemão, realismo russo ou nouvelle-vague com cinéfilos de carteirinha, bolsas de couro e roupas de tecido de fibras naturais. Não suportaria dois dedos de prosa com o Rubens Ewald Filho e acho que jamais conversaria com o José Wilker, se é que o Wilker deixa alguém conversar com ele.
Então, para acabar com este mal-entendido que me tirou o sono, e ficar carregando a culpa de uma pretensa intelectualidade, resolvi logo compilar uma lista de filmes favoritos. E verão que não há nada de mais.
De quebra, deixo este Blog no ar por uma semana, porque estou entrando em férias.
A lista foi feita com base em critérios próprios, muito próprios, e basicamente, um destes critérios teve um peso definitivo: todos os filmes abaixo me impressionaram muito quando os vi, e, se for convidado para assistir de novo, não vacilo, vou.
Três autores mereceram um destaque e elenquei os seus filmes que se enquadram na qualidade acima. Além disto, fiz uma menção honrosa. Por isto, a lista tem mais que 10. 
Mas, deixando o papo furado para lá, vamos aos filmes, com pequenas observações minhas mesmo. A ordem não tem relação com a preferência.
  • Witness ( A Testemunha) - de Peter Weir ( 1985), com Harrison Ford e Kelly Mc Gillis. Uma surpresa, mas certamente o filme que mais assisti em minha vida. O que era para ser um policial banal, vira um filmaço sobre o confronto da dura realidade da corrupção policial e a vida asceta, simples e agrária dos "amishes" da Pennsylvania. O filme recebeu uma nomeação para o Oscar de melhor roteiro e Harrison Ford, uma indicação para o Oscar. Na verdade, neste filme, Ford provou que podia fazer algo mais que Indiana Jones ou contracenar com robôs e monstros de outros planetas. Tem três cenas antológicas: a construção de um celeiro pela comunidade "amish", uma cena romântica entre Ford e Mc Gillis ao som de um rádio de automóvel velho e a surra num moleque especialista em humilhar "amishes" que lava a alma dos espectadores ascetas.
  • Lawrence da Arabia - de David Lean (1962), com Peter O'Toole, Omar Sharif, Alec Guinnes e Anthony Quinn. A obscura história de T. E. Lawrence, figura proeminente na Primeira Guerra Mundial e que depois resolveu sumir da vida pública. Levou dois anos para ser filmado. Alec Guinnes e Anthony Quinn estão perfeitos. Peter O'Toole exagera nos trejeitos de T.E. Lawrence, mas dá show ao engordar e emagrecer algumas vezes. Indispensável para quem quer entender alguma coisa da atual confusão política do Oriente Médio. Super ganhador do Oscar de 1963.
  • Asas do desejo ( Der Himmel uber Berlin) - de Wim Wenders ( 1987). Recebeu uma refilmagem hollywoodiana, chamada Cidade dos Anjos. O original foi com Bruno Ganz no papel do anjo apaixonado e a refilmagem foi com o Nicholas Cage no mesmo papel. Só pelo elenco, pergunto : dá para comparar ? A cena de Bruno Ganz na coluna da Vitória é antológica. O original alemão também tem detalhes perdidos no remake pipocão, como, por exemplo, a alternância da fotografia em preto-e-branco e colorida, e o fato da mocinha ser uma equilibrista de circo e não uma cirurgiã bam-bam-bam.
  • Local Hero (Momento Inesquecível) - de Bill Forsyth (1983), com Burt Lancaster e Peter Riegert.  Uma mensagem ecológica, com cenário espetacular do norte da Escócia, humor refinado, um pouquinho de Macondo, e um som capitaneado por Mark Knopfler com um tema lindíssimo. Um filmaço, infelizmente pouco percebido. O mais brutal capitalismo esbarra no tradicionalismo, e corrompe uma vila inteira, exceto um improvável herói. O título em Português é de uma falta de significado e ligação com o filme absurdos.
  • LA Confidential (Los Angeles, cidade proibida) - de Curtis Hanson ( 1987), com Kim Basinger, Kevin Spacey, Russel Crowe, Guy Ritchie, James Cromwell, Danny de Vito. Uma trama policial como poucas. Oscar de Melhor Roteiro Original de 1988 e Oscar para Melhor Atriz Coadjuvante para Kim Basinger. É um filme para ser assistido com máxima atenção.
  • Z - Costa-Gravas (1979), com Yves Montand, Jean Louis Trintignant e Irene Papas. Na época, a censura vigente no Brasil bobeou e Z foi exibido. Na prática, o filme é sobre um pacifista grego, chamado Gregori Lambrakis, que em 1973 lançou-se de corpo e alma em uma campanha pela não instalação de bases com artefatos nucleares na Europa. A caminho de um discurso, a personagem vivida por Yves Montand, chamado Zei, inspirado em Lambrakis, apanha um pouquinho e, como resultado de pancadas recebidas na cabeça, morre. Apesar de apanhar de jovens cabeludos e da Polícia, está em curso, na Grécia, um golpe de estado militar apoiado pela Otan, e o discurso pacifista é mal recebido. Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1980. Até hoje não entendi como a censura da época deixou passar. Apesar de tudo, muito atual.
  • Pequeno Grande Homem - de Arthur Penn (1970), com Dustin Hoffman e Faye Dunaway. Um garoto branco é sequestrado por índios e passa a vida a circular entre as sociedades "civilizadas" e as indígenas. É simplemente espetacular como a narrativa irônica consegue provocar um fenômeno então inédito na filmografia norte-americana: o público torce pelos índios. E no fim, o garoto, já crescidinho, se vê na condição de "scout" do General Custer, em plena batalha de Little Big Horn ( a analogia com o nome Cheyenne "Pequeno Grande Homem" é imediata). Ele dá informações precisas sobre como se desenrolaria a batalha e Custer o ignora. Como se sabe, Custer perdeu a batalha e a vida. 
  • As Invasões Bárbaras - de Dennys Arcand (2003), com Rémy Girard e Stephanie Rousseau. Este é especial. É uma continuação de "O Declínio do Império Americano". Os personagens são os mesmos, envelhecidos. Um deles está doente terminal, no Canadá, mas o sistema de saúde do país o trata com desdém. Curioso que o doente e seus amigos critiquem o sistema, inspirado em suas idéias socialistas de 20 anos atrás. A solução é acionar o filho, um milionário jovem, capitalista até o último fio de cabelo, para ajudar a cuidar do pai. O filho não só corrompe todo o hospital, como consegue um tratamento decente para o pai, por métodos pouco ortodoxos. Para completar, a "heroína" da parte final do filme é uma dependente química em..."heroína" !!! Um filme ótimo para quem não sabe em que sistema vive, qual defende e quais são os valores de nosso tempo.
  • Os Suspeitos (Usual Suspects) - de Bryan Singer (1995), com Stephen Baldwin, Gabriel Byrne, Chazz Palminteri, Kevin Spacey, Benicio del Toro. Oscar de Roteiro Original em 1996 e Melhor Ator Coadjuvante para Kevin Spacey. A arrepiante história de Kayser Soze, contada por bandidos de encomenda. Teoricamente, um filme para Gabriel Byrne brilhar, mas até nisso a surpresa é a tônica do roteiro.
  • M*A*S*H* - de Robert Altman (1970) - Depois, originou uma série de TV. Mas não confunda o filme com a série. No filme, Donald Sutherland, Elliot Gould, Robert Duvall e Tom Skerritt se comportam de forma muito pouco normal para quem está no front da Guerra da Coréia. Mas o batalhão é de médicos. O filme é tão insólito que até licença para jogar golfe no Japão é concedida para os médicos. Há também um suicídio hilariante. Apesar de selecionado para o Oscar em várias categorias, ganhou uma só, técnica. Mexia muito com o conservadorismo americano quando ainda corria a pleno a Guerra do Vietnam...
Não é uma lista pouco pretensiosa ? Tem algo de refinado ou intelectual de mais nos exemplares acima ? E Godard ? E Fellini ? E Truffaut ? E Bergman ? Tá bom , vá lá, os caras são bons, mas difícil me causarem impacto.
Mas para não dizer que não falei de filme de autor, destaco três que admiro. O primeiro, naturalmente, é Charles Chaplin. Não gosto de tudo. O Grande Ditador, por exemplo, para mim, é piegas e sem o "timing" de comédia, drama, seja lá o que for. Mas os anos da United Artists produziram três filmes sensacionais. Destaco O Circo, com duas cenas históricas como a do relógio de bonecos e a mula que teimava em dar uma carreira no vagabundo - um filme inesquecível. Em Busca do Ouro, para mim, o mais significativo, o mais emblemático e o mais recheado de idéias copiadas por muitos outros, como a cena do baile e a "dança dos pãezinhos". Por fim, Luzes da Cidade, ótimo filme mudo quando todos queriam o cinema falado.
Alfred Hitchcock...sim, como não mencionar ? Mas, de novo, o que me deixou simplesmente boquiaberto foi assistir a dois filmes dele: Trama Diabólica (The Rope) e sua incrível única cena, absolutamente genial; e Janela Indiscreta, outra idéia inspiradíssima.
De Luís Buñuel gosto de muitos , mas o único que me deixou pensando muito tempo depois que o assisti, foi O Anjo Exterminador. O surreal levado às últimas consequências no cinema.
E a menção honrosa, vai para Mulholland Drive, traduzido para Cidade dos Sonhos, do David Lynch com uma Naomi Watts linda de doer. Mas não fiquei marcado pelo filme por isso não. Foi porque nunca vi duas pessoas concordarem sobre o que, afinal, o autor quis dizer ou contar com o filme.

 

quinta-feira, 16 de julho de 2009

2009, 40 anos de lua, 20 anos de muro, 80 anos de quebra da bolsa.

Este ano está repleto de memórias. Hoje, comemoram-se 40 anos que o homem norte-americano pisou em solo lunar. Ainda tem a lembrança dos 40 anos do milésimo gol do Pelé.
E, para alegria de muitos e tristeza de alguns, os 20 anos da queda do muro de Berlim. Vinte anos...e não é que ouvi de uma amiga da minha idade que a queda do muro de Berlim foi um show do Pink Floyd ? Memória curta essa da minha geração...
De todas as recordações de anos com final 9, há uma estranha coincidência: os 80 anos do "crash" da Bolsa de Nova Iorque e os 20 anos do "crash" do comunismo são comemorados este ano, e de dez em dez anos, se encontram novamente para soprar velinhas do bolo juntos. Sim, o Muro de Berlim não foi, de per si, o fim do comunismo, mas foi o episódio mais marcante. Tivemos outros, claro, como a execução sumária e transmitida pela TV do líder comunista romeno Ceausescu, e a troca de bandeiras no Kremlin, numa noite fria de Moscou: saiu a vermelhinha e entrou a tricolor, rápido como um golpe de estado hondurenho.
Pois não é sensacional ? No mesmo ano podemos comemorar a falência do sistema capitalista, representado por um pânico em Wall Street e suicídios em massa, e a derrocada da artificialidade comunista, simbolizada no muro derrubado.
Isto é extremamente conveniente para os que não conseguiram se entender até agora. São capitalistas, mas defendem a intervenção do Estado. São ricos, mas financiam proletários e camponeses em investidas guerrilheiras. Estão no Poder, mas acumulam bens de forma distinta da população. Ou estão fora dele ( do Poder), mas almejam tomá-lo com motivações muito menos nobres que as ideológicas.
Isso sem contar os um bilhão e duzentos milhões de chineses que continuam sob a tutela de um Partido Comunista, mas vivem no mais pujante e pouco justo capitalismo do planeta.
Não é muito interessante esta coincidência ? E se somarmos que estamos no ano em que os governos socializam ícones do capitalismo, tipo GM ?
Enfim, 2009 é um ano para comemorarmos qualquer coisa. Sem preocupação com a coerência. Sem se preocupar com compromissos firmados em rodas de grêmios estudantis ? Sem se preocupar em discordar de um texto de própria autoria que a velocidade astronáutica da Economia se encarregou de deixar anacrônico, ou porque não admitir, errado ? Sem se preocupar de ter lido o Pasquim e ter concordado com tudo e hoje ler Fukuyama sem sentir repugnância ? Ou, sem se arrepender de um dia ter pego em armas para promover uma guerrilha e hoje se sentar no Poder e empregar suas energias todas em se manter, fazendo alianças exatamente com aqueles que poderiam ter passado pela mira das suas armas no passado ? Ou ainda, ter sido um entusiasta das idéias neo-liberais de Thatcher e Reagan e hoje entender que o mercado precisa de uma "certa dose de regulação" ?
Tudo isso sem culpa, sem compromisso, pois há saída para qualquer posicionamento ?
Não é um ano mesmo especial ?
Passo a imaginar Neil Armstrong e "Buzz" Aldrin lá na lua, olhando a Terra no horizonte, como uma esfera única e no seu íntimo sabendo que estavam lá pelo desenrolar de uma Guerra Fria, resultado de uma divisão ideológica do mundo e a corrida armamentista e de tecnologia. A esfera era única na visão, dividida em suas mentes.
Se eu hoje estivesse na lua e olhasse a Terra de longe, certamente enxergaria diferente.
Afinal, Chávez, Fidel, o norte-coreano esquisitão, Lula, Mugabe, Ahmedjinejad, os milicos de Mianmar, a foice, o martelo e o touro de Wall Street não seriam visíveis a olho nu.
E não conseguiria distinguir mais divisões na esfera azul. Nem as saudáveis.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Aceitação

Havia prometido aos meus cada vez mais numerosos leitores que escreveria um texto sobre a experiência de um carioca ir, sem estar devidamente preparado, à Festa do Peão Boiadeiro de Barretos 2009. Mas os últimos dias foram atribulados e este escriba amador acabou envolvido em outras prioridades.
Para não deixar a Sheilla e o Rubinho congelados no Blog, busquei em um dos textos que já publiquei qual estaria mais ligado aos meus sentimentos atuais, e que, por uma incrível sequência de coincidências, observei que está afetando também muitas pessoas próximas.
Então segue um texto que tem 45 dias de publicado sob o título Negação, Raiva, Negociação, Depressão e Aceitação, de volta à tela.

Eu gostaria de evitar, mas sou forçado a mencionar um episódio de uma série de TV como uma pequena obra-prima que aborda as reflexões humanas diante da inevitabilidade da morte. Trata-se do primeiro episódio do segundo ano de "House", chamado Aceitação.
Nos 45 minutos do episódio há um intenso conflito de todos os envolvidos com o fato de que dois pacientes estão condenados à morte. Um deles, um prisioneiro do "corredor da morte", assassino quádruplo, que, na véspera de sua execução, tem alucinações e problemas cardíacos, e várias complicações estranhas. O outro, uma moça saudável e de conduta irrepreensível, que chega se queixando de cansaço e tosse.
O Dr. House se interessa mais pelo caso do prisioneiro. Aqui, então, começa um conflito com quase toda a sua equipe e com a direção do Hospital. Afinal, para que salvar a vida de um condenado à morte ? E porque o pouco caso com uma paciente cujo raio X indica um tumor no pulmão ?
A lógica e a ética começam a duelar. Seria lógico deixar o condenado morrer e concentrar os esforços na moça com diagnóstico precoce de câncer ?
A evolução da trama expõe a improvável convergência entre a lógica e a ética. O condenado irá morrer, mas não deveria ser por problemas de saúde, e sim por determinação do Estado. Estranho, mas é ético e lógico, não se pode negar.
Já a moça, pelo diagnóstico da biópsia, tem tumores malignos. O máximo que se pode fazer é prorrogar sua vida por alguns meses.
Ambos estão condenados a morrer. Um, pela lei. Outro, pela doença. É difícil aceitar que o condenado merece sim, morrer, mas não daquela forma. Como é difícil aceitar que uma moça jovem e saudável esteja com um diagnóstico fatal.
Neste ponto, a evolução dos sentimentos que surgem diante da certeza da morte vira o enredo do episódio. Negação, Raiva, Negociação, Depressão e Aceitação.
O que é genial no roteiro enxuto, é que todos, não só os doentes, acabem percorrendo estes estágios. Inclusive o Dr. House.
Ao saber ou lidar com uma morte iminente, vem a Negação, em primeiro lugar. Ou seja, o sonoro "não, aquilo não é possível". Em seguida vem a Raiva, a irritação com a condição, que toma conta das ações e faz com que as atitudes fiquem pouco racionais. Em seguida, a Negociação, ou Barganha, quando começam a aparecer contrapartidas, e aspectos que nada ou pouco tem a ver com a situação e são usados para obter piedade, ou regalias, ou, o mais importante, alguma coisa que sustente a esperança de reviravolta. A Depressão vem a seguir: velha companheira da Raiva, a Depressão se manifesta pela apatia, pela desistência da luta, pelo desânimo. Por fim, a Aceitação, que não significa resignação, mas um estágio de reconhecimento do fatal, do inevitável, e como lidar com isto, com qualidade e buscando o conforto.
Toda a trama só converge no estágio da Aceitação.
A propósito, o condenado sai andando do Hospital, voltando para o "corredor da morte". Uma última apelação seria tentada, mas sem o apoio do Dr. House.
Já a jovem moça recebe a confirmação de pouco tempo de vida. Chora e desaparece.
Na última cena, Dr. House, cuja conduta é tão controversa, se mostra coerente: deprimido, bebendo sozinho em seu consultório, se levanta e deixa no quadro da sala apenas uma palavra escrita: aceitação.

A palavra aceitação é uma palavra forte. E, por vezes, incompreensível. Até que acontece, sem maiores explicações. E, neste caso, fica claro seu significado.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Por onde anda Deus ?

Porque as explicações científicas fascinam mas testam nossa capacidade de aceitação ?
A resposta é simples: uma explicação científica para um fenômeno qualquer acaba com toda a ilusão da crença e da tradição. 
Giordano Bruno, Galileo e Darwin que o digam. O primeiro foi queimado vivo, alegadamente por prática de bruxaria, mas, na verdade, o que botava medo na Igreja eram suas teorias sobre um universo infinito e um princípio de heliocentrismo. Galileo, como todos sabem, entrou para a história por um consolo menos corajoso que Bruno: "...per se muove". Para finalizar, Darwin matou Adão, Eva, Caim, Abel (este, mais uma vez, apenas) e toda a família com a sua "Origem das Espécies" e, coitado, foi excomungado.
Recentemente, Watson e Crick apresentaram o modelo do DNA e tornaram totalmente sem graça qualquer tentativa de refugar Darwin. E, atualmente, Richard Dawkins tem sido, não só um evolucionista capaz de calar os argumentos de místicos e religiosos de forma contundente demais para que estes não tornem a questão como pessoal, como um belo incorporador da genética na teoria de Darwin e colocar as espécies num segundo plano, pois, segundo ele, o que manda mesmo neste mundo são os códigos genéticos. Todo corpo, para Dawkins, inclusive o meu e o seu, é um hospedeiro, uma forma adaptativa que faz os genes sobreviverem. Faz sentido, já que os indivíduos morrem e os genes atravessam gerações. Mas que tornou a vida extremamente desinteressante, se analisada unicamente sob este prisma, ahhh...isso ele conseguiu.
Não é muito difícil olhar para seu corpo e aceitar que ele está sendo somente um veículo para os genes, aquele montulho de DNA, crescerem, sobreviverem e se multiplicarem ?
Outra teoria que deixou muita gente triste foi de um astrônomo e biólogo, cujo nome agora me foge completamente à lembrança, que afirmou que as chances de se encontrar um outro planeta com as condições de abrigar vida como na Terra é muito remota. Muito mais remota que o previsto por Carl Sagan, que apresentou um modelinho probabilístco interessante, levando em consideração o fator tempo para defender a existência de alguma outra civilização no Universo. Este outro cidadão elencou uma série de outros fatores, desde a concentração de alguns gases na Terra que possibilitaram o surgimento de vida, até o formato do escudo protetor que o cinturão de asteróides que envolve Mercúrio, Vênus, Terra e Marte, somente, exerce para evitar choques constantes e desagradáveis de outros corpos celestes com o Sol e os sortudos quatro planetas mencionados. Tudo isso para dizer que a vida na Terra é uma possibilidade tão remota quanto ganhar duas vezes na Mega-Sena em duas semanas consecutivas, sozinho.
Não liquida totalmente com o charme de acreditarmos em seres de outros planetas ? 
Pois é, colegas humanos, estamos sozinhos no Universo, abandonados a uma série de regras da Física e da Química, que vem nos protegendo há alguns milhares de anos, e ainda por cima, não passamos de invólucros de substâncias químicas replicantes.
Ciência é chata, mas crença é complicada. Por exemplo, no caso da evolução das espécies conjugada com a "exclusividade" que temos de fazer parte de uma civilização única no Universo, a ciência me trouxe quietude em relação a uma questão complicada: se Deus existe porque criaria, ou na pior das hipóteses, seria um bom administrador da evolução dos homens, e, ainda por cima, trabalharia exclusivamente para nós, homens ?
Porque Deus se importaria tanto conosco se tem tanta coisa para cuidar num Universo infinito ?
Muito agnóstico ? Muito ateu ? Muito reducionista ?
Sem dúvida. É ótimo conhecer pensadores científicos. Mas não é difícílimo apenas ler a frase abaixo:
Deus não existe.
É mais confortável acreditar que Ele existe.
Já o que anda fazendo com o enorme Poder a Ele atribuído, isso sim, é difícil de entender e até de acreditar. Mas os tempos pedem que demos um crédito a Ele. 
Só que seria muito bem-vindo um sinal claro de que Ele anda preocupado com o bicho-homem.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Você já está "twitando" ?

Impressionante como a tecnologia muda o vocabulário. O novo verbo da Língua Portuguesa é "twitar". Com o "w" e tudo, posto que esta elaborada letra foi devolvida ao nosso alfabeto na recente reforma ortográfica. Em Português correto, suprime-se um "t". E fica "twitar" mesmo.
O certo seria "twittar", com os dois "t", já que a ação descrita por este termo significa publicar no ambiente da internet, mais exatamente num site chamado "Twitter", alguma coisa curta, de 140 caracteres no máximo.
Antes de comentar o hábito de twitar, primeiro gostaria de ressaltar o que significa a palavra twitter no seu idioma paterno, o Inglês. Tem três significados "traduzíveis": 
1. Emissor de sons rápidos, como pios, aquele que pia...
2. Exprobatório, que vem a ser o contrário de comprobatório, ou seja, o que não precisa comprovação, ou o que precisa de reprovação. Aqui há uma conotação delicada, porque tanto pode ser aplicado a alguma coisa que não prescinde de confirmação, como pode ser aplicado ao ato de censurar, ou desconsiderar a opinião de outrem....hmmmmm.....está ficando bom...
3. Algo que torna insípido, sem substância...não é incrível ?
Ou seja, o espírito do site "Twitter", que era o de proporcionar aos internautas o seu micro-blog, em que pudesse escrever mensagens rápidas, talvez tivesse a ver somente com a acepção de "piar". O cidadão internauta iria ao site e escreveria em, no máximo 140 caracteres, contando os espaços, uma idéia ou uma nota, sem muito compromisso e curta como um pio.
Mas os significados de que a dita mensagem não carece de comprovação ou de que a mensagem é insípida não são dignas de menção, se não pelo desejo inconsciente, pelo fato de o "Twitter" poder ser mesmo uma faca de dois gumes ?
Explico melhor. Acesso o "Twitter", crio uma conta e começo a escrever o que bem me passar na cabeça. Lerá quem quer ou dará importância quem também quiser. Mas, e se for um boato, uma calúnia, um factóide ? Depois eu serei obrigado a comprovar a informação ? E, também, se escrevo uma baboseira qualquer, sem significado aparente a não ser para umas poucas cabeças, não estaria divulgando algo desnecessário num veículo desproporcional ao valor da mensagem ( não se esqueçam que o que é escrito no "Twitter" pode ser lido tanto pelo Barack Obama quanto por um curdo, ou um afegão) ?
Estamos no início da febre "Twitter". Aliás, algumas pesquisas indicam que a taxa de retenção da ferramenta está entre 40 e 45 %. Ou seja, a cada 100 ingressantes, só 40 ou 45 se tornam mesmo assíduos. Portanto, é difícil imaginar o impacto na mídia e na veiculação de notícias, além do uso como propaganda pessoal, institucional ou política do "Twitter".
Devemos esperar que seja grande. A maioria das pessoas odeia ler textos longos e 140 caracteres são lidos mnemônicamente, em quase qualquer idioma, o que significa que o esforço mental é pequeno. Mais gente ainda odeia escrever. Escrever é se expor. Significa ter algum compromisso com opinião, ou com dados e fatos, e, caso contrário, estar sujeito à opiniões...contrárias ! O "Twitter" acaba com isso. Escreva e quem quiser lerá. E se algum chato se mostrar contrário às suas opiniões, bloqueie o chato. 
Aliás a mecânica de seguir e ser seguido é perfeita como ambrosia para o ego. Segue-se o que é legal, o que é "fashion", ou formadores de opinião, ou alguma fonte "renomada" que dão ao seguidor o "status" de bem informado, ou algum indiscreto engraçadinho, para simples diversão. Deixa-se ser seguido por quem não vá te aborrecer. E ter seguidores ilustres é o máximo...pois é, tem uma estratificação social do Twitter e o Ashton Kutcher atualmente ocupa o topo.
Mas eu estou no "Twitter". Procurando bem, encontrei coisas interessantes, como uma deputada egóica do PC do B. Ou notícias interessantes sobre o outro lado de situações que nos são informadas com embrulho, como, por exemplo, o lado que não quer que o exportado presidente Zelaya volte para Honduras, e talvez achassem que o embarque deveria ter sido num foguete para a troposfera e não para a vizinha Costa Rica.
Estou twitando e descobrindo coisas interessantes. Como o bambolê, o VHS, ou o Orkut, nesta ordem, o Twitter pode simplesmente sumir porque ficará sem graça, será substituído por uma ferramenta melhor e mais adequada, ou se transformará numa rede social onde impera baixaria e auto-promoção.
Mas, por enquanto, é interessante. Experimente e twite você também. Eu não recebo nenhum centavo para fazer essa recomendação, mas acho que, por enquanto, está valendo a pena.
A propósito, já tive que bloquear um corretor de imóveis e uma prostituta.
Eles me twitaram muito.
Mas, afinal, você já está twitando ?



domingo, 5 de julho de 2009

Meu personal "hit parade"

Tenho o hábito de ouvir música direto do computador. Desde que adquiri uma máquina bem atual e poderosa, além de uma qualidade de som razoável, o tradicional "aparelho de som" ficou praticamente inútil em minha casa.
Obtenho as músicas de duas formas: baixando-as pela web ou de CD's. O resultado é que meu acervo no computador está gigantesco. Para ouvi-las, oranizo as músicas em listas que acho que combinam com algumas necessidades. Por exemplo, tenho duas listas chamadas "para dormir", com muito instrumental, muitas clássicas e "new age". Outra lista chama-se "dance", embora não seja exatamente dançante, está repleta de músicas das décadas de 80 e 90, digamos, movimentadinhas.
Pois bem, resolvi em uma outra lista classificá-las pelas mais ouvidas. O programa que uso classifica a música pelo número de vezes que a escutei. E, tive algumas surpresas, outras nem tanto, mas resolvi repassar neste texto pois acredito que o tipo de música apreciado diz muito sobre algumas características da pessoa, que, neste caso, sou eu mesmo. Então vamos lá.
A mais ouvida chama-se World Before Columbus, de Suzanne Vega. Esta é uma cantora e compositora que teve dificuldade de se posicionar. Suas letras são politizadas e engajadas mas ela é mais conhecida pelas melodias mais ingênuas. Foi assim com Luka, que tocou ad nauseam em rádios FM dos fins da década de 80. Todo mundo dançava a musiquinha em boite e não se dava conta de que a letra era uma denúncia sobre a violência doméstica contra criancas. 
Em World Before Columbus, Vega canta uma história de amor, com arranjo acústico e simples mas uma melodia inspiradíssima.
Em segundo lugar vem Siberian Khatru, um clássico do Yes do álbum Close to the Edge, de 1972. O perfeito entrosamento da bateria de Bill Bruford e o baixo de Chris Squire é, para mim, um momento único deste dinossauro do progresivo.
Em terceiro, vem Windswept, de Bryan Ferry, do mesmo álbum do mega-sucesso Slave to Love. A sonoridade oriental de Winswept sempre me cativou. Brian Ferry teve seu melhor momento neste álbum, Boys and Girls, e esta faixa é de uma sensibilidade única.
Em quarto vem uma música incidental, Horizons, tocada pelo Steve Hacket no álbum Foxtrot, do Genesis. Trata-se de uma peça pequena, bonita, e cheia de harmônicos nas cordas de um violão de nylon normal. Muito consumível.
Em quinto vem Clarity, do atual xodó norte-americano John Meyer. Gosto do estilo dele, mas esta canção tem um refrão em coro de arrepiar. Infelizmente, já foi descoberta pelo Esporte Espetacular e quando mostram histórias de alegria ou sucesso ligadas ao esporte, os sonorizadores da Globo abusam de Clarity.
Em sexto tem um escorregão. Watermark, da Enya. Acho muito chata, mas deve ser resultado das listas "para dormir"
Em sétimo aparece uma música desconhecidíssima chamada Mona Lisa de um sujeito mais desconhecido ainda chamado Chris Clouse. Descobri que este artista gosta de divulgar suas músicas pela web. Elas quase não aparecem para download freeware e o CD físico não existe. Mas trata-se de um techno-pop muito interessante.
Em oitavo está a clássica Jump, do Van Halen....só que na versão acústica do Aztec Camera. Essa é conhecidíssima. Mas a minha preferência pela versão acústica deve significar que não sou um Sagitário tão característico. 
Em nono está Solsbury Hill, do primeiro álbum solo de Peter Gabriel. Uma base em ostinato e o vocal inconfundível de Gabriel formam uma das canções mais bonitas que o extra-classe inglês já compôs.
Fechando as "dez mais" aparece Teardrop, do Massive Attack com o Portishead. Um techno-lounge lindo, conhecido como trilha de abertura do seriado House.
Pegaram o espírito da coisa ? Vale lembrar que nas 25 primeiras aprecem o álbum Tubular Bells, de Mike Oldfield, uma peça de Grieg e o Bolero de Ravel.
Mas, e a MPB ?
Gosto de muita coisa na música brasileira, mas também desgosto de muita coisa. Confesso ser seletivo quando a letra é em Português. Não entendo o sucesso do pagode, do funk, do Zeca Baleiro e da Ana Carolina. Gosto da Marisa Monte, do Skank, do Guilherme Arantes...mas estão lá algumas entre as mais ouvidas, e pela ordem: Estrela, Estrela, de Vitor Ramil; Pela Internet, de Gilberto Gil; e Resposta, do Skank. Uma gaúcha nativista, uma nordestina e uma balada mineira. Ninguém pode me acusar de ser regionalista. Música boa não tem nacionalidade.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Carl Palmer

Carl Frederick Kendall Palmer nasceu em 1950, portanto, está com 59 anos, e continua sendo um dos bateristas mais admirados do mundo. Do rock ? Sim. Mas também do jazz, de influências clássicas e de clínicas mundo afora. Sua técnica é única. Seu vigor já foi comparado ao de Keith Moon ( baterista legendário do The Who) e também aos das "blitzkrieg" alemãs. 
E é dos poucos músicos de primeiro time que consegue deixar o ego dos outros músicos rendidos. Outros bateristas reverenciam Palmer. Os museus e casa de culto ao Rock só possuem relíquias de Carl Palmer doadas por outros, nunca por ele mesmo. Os ex-colegas Dave Greenslade, Greg Lake e Jonh Wetton , entre eles. Mas o maior cultuador de Carl Palmer é um improvável Ringo Starr, que já comprou várias baterias usadas em shows do ELP, e as doou. Ringo gravou "covers" de Palmer, apesar de estilos muito distintos, e até de grande distância de recursos técnicos e não esconde que Carl Palmer é sua referência.
Palmer nasceu em uma região agrícola da Inglaterra, filho de um pai que era "one-man-show", daqueles que sozinho toca violão, gaita, bate bumbo e dança, e de uma mãe violinista. Começou, acreditem, no violino, aos 7 anos. Aos 12 desistiu e foi para a bateria. Mas teve professores de primeira, como o lendário Buddy Rich. Aos 18 já gravava, curiosamente com uma banda cujo líder tinha medo de voar de avião. Durante uma turnê pelos Estados Unidos, Palmer ficou preso em Nova Iorque por 3 meses, por causa desta fobia do colega. Juntou-se ao Atomic Rooster em 1968.
Mas, em 1969, tudo mudaria. Após Woodstock, a Inglaterra tinha que fazer um evento do mesmo porte. E foi o Festival da Ilha de Wight. Greg Lake, insatisfeito no King Crimson, conversou com Keith Emerosn, que era do Nice, para fazerem um show apenas e convidaram Carl, 5 anos mais novo que ambos. O então garoto titubeou, já que o Atomic Rooster vendia bem. Depois de duas jam sessions e do show marcante no festival, estava formado o grupo, sem nome, e que por isso recebeu os sobrenomes dos três músicos.
O primeiro álbum arrebentou nas vendas, mas surgiram problemas, a seguir. Keith Emerson compôs uma música, chamada Tarkus, de cerca de 20 minutos de duração (um lado inteiro de um LP antigo de vinyl) que tinha tantas variações de compasso, velocidade e sons que Carl Palmer pensou em sair do grupo. Greg Lake, que daí em diante faria sempre o papel de equilibrar os egos de Emerson e Palmer, convenceu-o de ficar com duas musiquinhas bestas no lado B, Jeremy Bender e Are you ready, Eddie ?
Mas o que fez o álbum vender foi Tarkus e a performance de Palmer lhe valeu reconhecimento mundial imediato. Seguiram-se os bons Pictures at an Exhibition, sobre a peça de Mussorgski, Trilogy e Brain Salad Surgery. Este último, embora não tão bem recebido pela crítica, traz um Palmer simplesmente inacreditável. Todos os analistas acharam que o que se ouvia no disco era fruto de recursos eletrônicos, até que a turnê começou e o baterista assombrou o mundo com seus recursos e um conjunto de tambores e pratos gigante e inédito.
Daí para frente o ELP começou a afundar. Sinal de morte para os músicos ? Quase. Lake se virou meio sozinho, Emerson se juntou a Lake duas vezes e tentou ir para o clássico. Mas Palmer ressurgiu brilhante no Asia, ao lado de Steve Howe e Geoff Downes que vinham do Yes, e John Wetton, que vinha do King Crimson. O som do Asia, bem mais pop de tudo o que estes músicos já tinham feito, caiu no gosto popular, a ponto de muitos dizerem que foi o "som do ano de 1982". O ego de Howe não coube no grupo. E Palmer saiu dois álbuns depois, alegando estar interessado em se desenvolver na música clássica. E mandou bem: juntou-se à Filarmônica de Londres como diretor de percussão.
E, no início da decada de 1990, veio o renascimento do ELP. Durou três discos e muitos shows, mas alguns problemas, e o pior deles, as tendinites, ao mesmo tempo, nos dedos de Emerson e nos punhos de Palmer. As cirurgias simultâneas encerraram o ELP 2.0, mas aproximou Emerson e Lake, ambos maratonistas por hobby e que fizeram fisioterapia juntos.
Hoje, Palmer roda o mundo com uma banda formada por ele, relembrando clássicos do ELP, além das clínicas e da colaboração com o clássico. Aos 59, ainda ensaia e treina ao menos 90 minutos por dia.
Quando perguntaram a Lake e Emerson porque não se incomodavam que Palmer estivesse tocando músicas do trio mundo afora sozinho, a resposta foi a mesma: ele era o único de nós três que era insubstituível.
Palmer foi o baterista que impôs seu estilo por onde passou. 

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Parnasiano

Me perguntaram sobre a foto aí em cima, que encabeça esta página.
Deixei sem resposta para coletar impressões.
Sugeriram que eu tinha escolhido uma foto qualquer, capturada da internet, de um por do sol bucólico e poético. A paisagem rural caprichada, com vaquinhas e tudo, comporia o quadro como uma fonte de inspiração parnasiana.
Outro interlocutor sugeriu que eu estava demasiadamente triste quando escolhi a foto. De certa forma, sim. Mas a foto não foi escolhida por este motivo.
O conteúdo do Blog até o momento não combina com a foto, reconheço.
Mas senti que eu estava precisando receber os amigos, uma vez que o título do Blog é dedicado a eles. E precisava de uma foto acolhedora. E que, ao mesmo tempo, representasse algo de amizade para mim mesmo.
Pois bem, escolhi a foto que aí está. Não foi tirada da internet. Fui eu quem a tirei em dezembro de 2006, e retrata um por-do-sol no Pampa gaúcho. Portanto, como se sabe, por volta de 21:00 mais ou menos, na cidade em que eu estava.
Esta foto, além de transmitir uma calma parnasiana mesmo, me remete aos meus dois melhores amigos: meus filhos.
Não vou detalhar a ligação que tenho com os dois ou a que eles tem com o Pampa gaúcho, mas asseguro-lhes, que, toda vez que vejo esta foto, me lembro deles e de como eu gostaria de ser tão amigo deles quanto eles são de mim.
Mas, a partir de hoje, para combinar com assuntos muito menos sentimentais e menos poéticos que vem sendo abordados neste espaço, esta foto entrará em sistema de rodízio com outras.
Não estranhem ao se deparar, por acaso, com ilustrações mais coloridas e menos, digamos, parnasianas.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Nulla Dies Sine Linea

Frase de Plínio, o Velho.
E daí ?
Quem foi Plínio, o Velho ?
Uma das personagens mais surpreendentes da História, na minha avaliação.
Por volta de uns setenta anos após o nascimento de Jesus, Plínio, da aristocracia romana, entregou ao futuro imperador Tito uma das obras de maior fôlego que um único ser humano produziu: a Historia Naturallis, um incrível compêndio de assuntos ligados à Natureza, em 37 volumes de mais ou menos 500 páginas cada um...ufa  !
Não precisa ser dito que, naquela época não havia o Word. Nem máquina de datilografia. Plínio, ou Gaius Plinius, em bom latim, gastou a pena mesmo.
Não é de se estranhar que seu lema fosse Nulla dies sine linea, ou, em bom Português, "nenhum dia sem uma linha". Plínio deve ter escrito muito.
Outra característica de Plínio era ser um militar exemplar. Foi almirante, ou uma espécie de almirante, já que os romanos não tinham Exército, Marinha e muito menos Aeronáutica. Com este cargo viajou o mundo inteiro em sua breve vida de 56 anos. Bem, o mundo como conhecemos hoje inteiro, não. Plínio conheceu tudo o que cerca o Mediterrâneo, algo muito próximo de "mundo todo" naquela época.
Pois bem, mesmo com esse vasto conhecimento, Plínio teve uma morte surpreendente. Morador de Pompéia, Plínio, depois de escrever a Historia Naturallis, resolveu prestar atenção ao Vesúvio. E não é que resolveu fazer uma expedição exploratória bem no dia em que o velho vulcão resolveu se irritar?
Na famosa erupção de 77 d.C., Plínio estava subindo o Vesúvio...isso mesmo !!! Não é irônico que alguém que se esmere em conhecer a Natureza cometa um erro crasso desses ?
Ele não morreu de imediato. Prescindindo o perigo, e talvez a temperatura em alta, desceu rapidinho e tentou pegar um barco, com meia dúzia de colaboradores, mas era tarde demais, a nuvem de fumaça e o pó da erupção eram mais rápidos e lá se foi Plínio, junto com a população de Pompéia quase toda.
O que isso tem a ver comigo, com você ( que está dedicando tempo e atenção a uma história bobinha como essa), e com quem nos rodeia ?
Simples.
Mesmo escrevendo muito sobre um monte de coisas, Plínio desconhecia o fenômeno dos vulcões, e como essas montanhas fumegantes se comportam inesperadamente. E ele era praticamente vizinho de um !!!
Ou seja, por mais que estudemos, aprendamos e tentemos escrever sobre assuntos variados, por muitas vezes, desconhecemos o que está ao lado. 
Palpitar sobre o que está distante é fácil. Conhecer e entender o que está bem perto, nem sempre.
Mas deixemos o velho descansar em paz, porque sua herança para a Humanidade foi valiosa. Até no seu maior erro.