quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sociopsicologia de nomes de Lisboa

Recuperei num sebo um dos livros mais curiosos que li em minha vida. De autoria do então membro da Academia Brasileira de Letras Raymundo Magalhães Júnior, trata-se de uma pesquisa muito interessante, com explanações precisas em História, Sociologia, Política e Psicologia dos prenomes, sobrenomes e nomes em geral ( até os indígenas recebem tratamento). Li o livro no final da década de 70 e guardei como livro de cabeceira por uns bons anos. A primeira edicão é de 1974. Famoso por biografias polêmicas como as de Ruy Barbosa e de Machado de Assis, Magalhães Jr. não chegou a surpreender com o livro, chamado "Como você se chama?", já que havia compilado dicionários de ditos populares e folclóricos.
Mas o livro não é um dicionário. Em 22 capítulos, o autor vai de teorias psicológicas que o nome do indivíduo exerce sobre o mesmo até casos de nomes extravagantes e bizarros, com discussão jurídica sobre a troca de nomes bizarros.
No capítulo 21, o autor faz um estudo na onomástica portuguesa e valendo-se apenas da lista telefônica ( da década de 70) de Lisboa desfila uma série de nomes curiosos. Igualmente curioso é que estes nomes não tenham migrado para o Brasil.
Há inspiração em vários aspectos da vida, tanto naturais como produzidos pelo homem, como os nomes de alimentos preparados, que estão exemplificados por Manuel Jesus Chouriço, e outros chouriços até o Raimundo Chouriço. José Lopes Manteiga e Gil Ribeiro Manteiga representam os laticínios. Há um Manuel Toucinho e um um Manuel João Presunto. E 29 com sobrenome banha, como o Alfredo Silva Banha.
Aves e pássaros também parecem populares por lá São inúmeros os Canários, como o sr. Sivino Canário. Os Pelicano ( que tem um ramo no Brasil) ostentam um representante com nome frágil para trocadilhos; o sr. Nuno Grande Pelicano.. Há Gaviões, Marrecas, Bicudos e Perdizes, Além de três Perdigotos, como o sr. Bernardino Antunes Perdigoto. 29 Faisões e 48 Melros mostram como as aves são queridas em Portugal. E os Galinha, como Antonio Santos Galinha e  Mário Gonçalves Galinha. Há um José Joaquim Correia Galinheiro e um João Antônio Ganço, com cedilha mesmo, mas há o sr. Álvaro Ganso, com "s"mesmo, 75 pessoas tem o sobrenome Pardal. E 3 Picanço, que no Brasil vem a ser o pica-pau.. Temos 43 Patos, sendo que há um Nuno Bulhão Pato. e um incrível Patinhas, como o personagem de Walt Disney.Ainda nas aves, temos Corvos e Cotovios e uma Joana Sengo Peru.
Como país marinho, de navegadores, o mar não podia ficar de fora.Vários "Tainha", "Pescada", "Peixe". "Peixinho" e um Manuel Corvina.Temos um  Antonio Silva Tubarão. um Carlos Alberto Garoupa, e 13 com sobrenome "Arraia". Não podia ficar de fora o Bacalhau, cuja lista começa com Albino Encarnação Bacalhau e termina com Vitor Bacalhau.Muitos da família"Boto", e da família "Lampreia". Há um Carapau, o sr. João Carapau. Há os Marujo e vários Marinheiro, inclusive a sra. Ana Lança Marinheiro.
Dos bichinhos terrestres temos muitos Gatos., mas 5 tem o sobrenome "Gata". Nove lisboetas ostenatm o sobrenome "Vaca"e 18 o de "Vaquinhas". 32 tem o sobrenome "Camelo". E os incríveis Texugo, como o sr. Casimiro Santos Texugo. Há um Mário Augusto Cachorreiro. E alguns "Preguiça", como o sr. Aires Abreu Preguiça. Temos 7 da família "Zorro" e o imponente Tenente Antonio Traça. Háo Sr. Alberto Carrapato, e o sr. Samuel Caramujo. Dna Adelaide Besouro, o sr, Fernando Caracol, e Roberto  Caranguejeiro são exemplares únicos de suas espécie. Mas em compensação. são mais de 200 "Grilo"ou "Grillo". como são numerosos os Carneiros. O curioso fica por conta do sr. Armando Furtado Carneiro. O sr. Dario Ovelha e mais cinco assinantes representam o feminino dos ovinos.
As plantas enriquecem sobremaneira os nomes pouco comuns. O sr. Antonio Caroço,  o sr, Jesus Tremoço, o sr, Cipriano Tomate, a sra. Silvia Limão, o sr, Vicente Cebola, e o tropical João J. E. Coco, por exemplo.
O sr. Luís Ginza Azeitona, a dra, Maria Antonieta Hortelão, a sra, Maria Pêssego, o sr, Norberto Simões Arroz, o sr. Antonio da Encarnação Batata, o sr. Joaquim Gorgulho Melão.o sr. Saraiva Pimentão, a Sra. Ângela Salça, o o sr. Manuel Madreira Nabo, a sra, Maria de Lourdes Giló, o sr, Francisco Marmelada, o sr, Manuel Melancia,  e o sr, Jaime Cidra são representantes de famílias mais numerosas ou escassas, mas lá estão.
A religião povoa os sobrenomes da Língua Portuguesa, mas em Lisboa, há a família Calvário, e a família Igreja. Deus existe e 56 pessoas tem esse sobrenome, como a sra. Raquel Sacramento Deus. Muitos "Vigário", inclusive mulheres como a sra. Gertrudes Vigário. O sobrenome Jesus é comuníssimo. Mas as combinações Amélia de Jesus Gago, Francisco de Jesus Catarro, e José Luís Jesus Tocha merecem destaque. Gregório Beato, Alfredo Carola e Carlos Freirinha também são combnações curiosas.
As partes anatômicas são inúmeras em Lisboa. O sr. Fernando Testa, a sra, Carla Perna, o sr. Vasco Barba, o sr. Domingos Bigode, o sr, José Carlos Bochecha, o sr, Vicente Barriga, o sr. Clemente Bexiga e o sr, Afonso Dentinho representam famílias diminutas, Temos um sr. Antonio Pezinho e um Julio Pé-curto ( com hífem mesmo). Há os inspirados por Carlos Magno, como o o Sr. Manoel Grosso, o sr. Pedro Carlos Gordo, o sr. Gregório Gorducho. Sobrenome comum é Braço-Forte, como o sr. José Pereira Braço-Forte e o sr, Manuel Braço-Forte. São quatro com sobrenome Tripa, como o sr. Aldo Tripa. E uma sra. Maria Constança Dodes Pança.
No ramo da construção civil, há um isolado José Santos Paredão, embora muitos Paredes. Há 9 Janelas, como o sr. Jorga Janela.Impressionantes são o sr, Manoel Boeiro e o sr. Liberato Banheiro !
Ligados a guerras há vários. O sr. Manuel Trabuco, o sr, João Pelouro, o sr. Carlos Granadeiro, muitos Fragata, Marujos mas apenas um Joaquim Coronha e um Inácio Corneta da Alvorada. Curiso são os Canhão,com 44 assinantes. Mas a sra. Linda Canhão merece mencão honrosa.. Tal como o sr. Pacífico Cavaleiro.
A lista engrossa com temas variados. Há a família Triste.como a sra. Mercedes Hernadez Triste.E outros: o sr, Luís Chora, o sr, Paulo Chorão, a sra. Natércia Chorosa, a sra. Judite Asseado e 44 com sobrenome Bizarro, como o sr. Gustavo Bizarro, O prenome Jacinto se presta a vários trocadilhos. Pois o autor achou o srs. Jacinto Fronteira, Jacinto Carvalho Arranhado, Jacinto Fadigas, Jacinto Dores, Jacinto Farinha e Jacinto Fortuna.
Alista poderia se prolongar muito, mas vamos ficar com alguns nomes pouco usuais, como o olímpico sr. Joaquim Carvoeiro Tocha, o sr, Pedro Louças, o sr. Alberto Gaiteiro, a sr.a Vera Carapuça, o sr. José Antonio Calças e o sr. João Antonio Conserva.
Mal ou bem, esses sobrenomes significam substantivos. Mas o que dizer do sr. Raul Coito, acompanhado de mais 36 com o mesmo sobrenome ? E de Dna Alda Cabaço ? E a sra. Maria Rachadinha ? E os Bicha. ? Em Portugal bicha é fila, mas a conotação brasileira já se popularizou em Portugal e dá pena do sr. Alberto Bicha e do sr.  Manuel Bicha. Bolina é uma peça náutica e 7 lisboetas ostentavam o artefato como sobrenome, como a Sra. Adelina Leme Bolina, quase um barco inteiro no nome. O palavrão brasileiro "pica"batiza vários assinantes, os exemplares com nomes mais curiosos são o sr. Felizberto Pica, o sr, Manuel Maria Pica e o sr. Eugênio Madeira Pica.
R. Magalhães Jr. passa então a listar nomes curisosos variados. São duas páginas de nomes pouco usuais e cacófonos como o sr. Jerônimo Charuto, o sr. Antônio Paraíso Tacanho, o sr. José Trem, o sr. Sebastião Frio, o espetacular João Jota Fazenda Gíria, o sr. Jaime Barril, o sr. Antônio Haja-bem, o sr. Adriano Costa Vaso Veludo, a dupla dos srs. Jose Pagará e Domingos Pagou, o sr. Alfredo Mau. a sra. Alice Céu Garimpo, o sr. João Figueiredo Verdade, a sra, Eugênia Tapada, o sr. Ângelo Menino de Ouro, o sr. Vitor Fitas Ouro, o sr. Ezequiel Palhaça (no feminino), o sr. Domingos Aresta, o sr. João Assédio, o sr. Antônio Rodrigues Pandeiro. o sr. Antonio Pechincha, o sr. Antônio Pedaço Júnior, o sr. Antônio Taful, o sr. Aníbal Ganãncia, o o sr. João Rodrigues Paratudo. o Sr. João Peste, o clérigo Dom José Porém, o sr. Rodolfo Catarro, que tem muitos parentes, o Engenheiro Antônio José Pau-Preto e seu quase homônimo Antônio José Pau-Branco.o sr. Casimiro Arrebenta, o sr. Eduardo Arriscado. a sra. Fernanda Nunes Saco, a sra, Maria Olinda Madeira Forte, o sr. Antônio Completo Pito, a sra. Rosa Perpétua, o sr. Joseé Ameixa Perna, o sr. Jorge Consciência, o sr, Ivo Cativo, o sr, José Amado Noivo Júnior, o sr. João Cristóvão China, e 9 da família Cambalacho, como o sr. Armando Cambalacho.
Curiosamente há brasilianidades na lista como vários Brasil e 7 Carioca como o sr. Domingos Freire Carioca. Há sobrenomes baseados nos meses do ano sendo janeiro o mais comum. São poucos os fevereiro como o sr. Orlando Fevereiro. O mês de abril reserva o nome menos desejado, o da sra. Maria dos Prazeres Abril.
Não faltam as cores, como o sr. Cesário Verde, o sr Joaquim Amarelo, o sr. Tomás Vermelho, o sr. Vítor Torres Preto, o sr, Carlos Roxo, e o sr. Inácio Pardo.
Como se observa, apesar da criatividade nos sobrenomes, os portugueses não primam pela mesma qualidade na  escolha de prenomes. Assim, em 1974 haviam 900 João Santos. Calcula-se que hoje essa combiinação ultrpasse o milhar o que deve causar embraços aos seus portadores. Igualmente comum é o de Manuel Santos.
Seja como for, há de se tirar o chpéu para o acadêmico Raymundo Magalhães Júnior de escolher a lista de asinantes de Lisboa para esta amostragem da onomástica portuguesa.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Eu sou a Regina Duarte da vez !!!

Regina Duarte, na campanha de 2002 provocou polêmica ao dizer que tinha "medo do Lula". O futuro mostrou que salvo uma mudançazinha aqui, outra ali, um bolsa-aqui, um bolsa-acolá, o governo Lula se transformou numa continuação do programa do governo de FH, aliás, muito mais democrático em termos de governo, pois o plano de FH não tinha a assinatura FH. E Regina virou caricatura com seu medo.
Já o do PT, como disse, continuísta em 90%, tinha uma impressão digital ( assinatura do Lula) e mais, no máximo, três: Pallocci, Dirceu e Dilma. Os dois primeiros foram afastados por corrupção. A terceira virou a xerife do espólio. E Lula deu sorte. Surfou num momento de tranquilidade financeira internacional e ao afastar os temores de investimentos no Brasil, ao adotar um discurso beócio-populista-moderado, tranquilizou. O Brasil estava com fundamentos da economia bem montadinhos depois do sufoco de janeiro de 1999 ( diga-se de passagem, alicerçado em cabeças com pouca afinidade ideológica como Malan, Fraga ( um capitalista de alta patente), Ciro Gomes ( memória curta a nossa, não) entre outros.
Lula, sem candidato, jogou na mesa Dilma. Uma técnica de gabinete, brilhante em planos, principalmente de assaltos. Aliás, o Planalto, com Dilma e Franklin Martins virou casa de asilo de ex-terroristas. Admiro a coragem deles de, nos anoas de chumbo, enfrentar o então Poder constituído. Mas coragem e inconformismo semi-juvenil não levam a muita coisa, como aliás, não levou, e na minha visão está longe de credenciar alguém para ser gestor público.
Dando um salto para 2010, vemos os institutos de pesquisa apontando a vitória da simpaticíssima Dilma ainda no primeiro turno. Relaxei e gozei. Afinal supositório geral, na pior das hipóteses, no dos outros é consolo. Eu me dou mal, mas relativamente não. Porque todo mundo se dá mal. É um consolo idiota, concordo. Mas leva à resignação, pelo menos.
Mas os nossos institutos de pesquisa são muito precisos, como se sabe, e a margem de tolerância se aplicou nos limites. Dilma para baixo, Serra para cima. Um improvável segundo turno então aconteceria. Isso se repetiu em outros estados. Noves fora os erros meio grosseiros, a fase agora era outra. A exposição da Dilma iria aumentar. Na mídia, em discursos, em debates.
Aí eu virei a Regina Duarte. Fiquei com medinho. Dilma é um factóide mal feito, mal preparado, intolerante, deselegante, e o PT, uma polícia partidária no melhor estilo Nazista.
Hoje, o candidato da oposição José Serra fazia campanha na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Nesta eleicão ainda não havia sido registrada nenhuma pancadaria entre correligionários de partidos diferentes. As caminhadas, os eventos de campanha, por mais ridículos e insípidos que sejam, não replicaram o encontro da torcida do Palmeiras e do Corinthians, ou do Vasco e do Flamengo na entrada no estádio, desandando em confusão, xingamentos e o mais baixo, de tudo, agressões físicas.
Pois bem. Serra caminhava num ambiente tenso, afinal, por vários motivos, a região tem miltância petista  efetiva. Procurei explicações em Tropa de Elite 2. Tive surtos de epifania, mas o filme deixa vácuos, mas enfim, lá, sabe porque cargas d'água, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, há militância petista feroz, para usar adjetivo suave.
Bem, a certo ponto, o pau roncou na casa de Noca. Impossível atribuir a confusão a desavenças entre militantes do PSDB. Coincidência ou não, a militância petista entrou em cena, truculenta. Se a careca do Serra arranhou ou ele teve traumatismo craniano, é irrelevante. Trata-se de agressão a um candidato num estado democrático. Isso é inconcebível. Patrulhar campanha, provocar distúrbios e afins me parece um método chavista de praticar democracia, uma contradição em termos, óbvio.
Essa truculência denota medo. medo justifica muita coisa. A militância petista deve estar preocupada com uma derrota da Dilma. Como se sabe. O governo democrático do PT não passou de loteamento político de tudo. De empresas estatais, a ONGS, a escolha de fornecedores do Governo. Para os amigos, tudo. Para os inimigos, porrada.
E como tenho uma visão que acho que é maior que dois palmos além do meu próprio nariz, creio que um governo Dilma não mudará essa ação entre amigos e ainda por cima com um "amigão"de mãos dadas que é o balcão de negócios que atende pelo nome de PMDB.
O recrudescimento da campanha, a ponto de se sentar a porrada num candidato, mostra que a motivação não é ideológica. É de jogo de poder baixo, sórdido, de toma-lá-dá-cá.
E encarenei Regina Duarte de 2002. Estou com medo. Medo do patrulhamento, de reações adversas, de colocar gente no ostracismo por que "não é dos nossos", de boicote a órgãos de imprensa, do uso de outros órgãos de imprensa ( e poderia citar mas não quero ser leviano) para plantar notícias que desqualificam a oposição, enfim, da subversão no limite da legalidade e no extremo da cara-de-pau de princípios democráticos.
Meu período de ócio me permitiu um trabalhinho de reportagem. Nos Estados onde o PT ganhou o governo no primeiro turno, há temor. Principalmente onde há forte economia rural. No Rio Grande do Sul, o número de membros do MST praticamente dobrou em dois meses. Não devem estar lá para tomar chimarrão. Na Bahia, no oeste baiano, unhas são roídas, embora o Nordeste seja alvo pouco visado da milícia terrorista rural oficial subvencionada.
Deixemos de hipocrisia. O MST é o braço maoísta truculento da truculência do PT.
Não há espaço para isso hoje no Brasil. Vote em Dilma e alinhe-se a Evo Morales, e, principalmente Hugo Chávez, onde o nacionalismo legitima tudo. Até cacetada no candidato oposicionista.
Virei Regina Duarte versão 2010.