quinta-feira, 16 de julho de 2009

2009, 40 anos de lua, 20 anos de muro, 80 anos de quebra da bolsa.

Este ano está repleto de memórias. Hoje, comemoram-se 40 anos que o homem norte-americano pisou em solo lunar. Ainda tem a lembrança dos 40 anos do milésimo gol do Pelé.
E, para alegria de muitos e tristeza de alguns, os 20 anos da queda do muro de Berlim. Vinte anos...e não é que ouvi de uma amiga da minha idade que a queda do muro de Berlim foi um show do Pink Floyd ? Memória curta essa da minha geração...
De todas as recordações de anos com final 9, há uma estranha coincidência: os 80 anos do "crash" da Bolsa de Nova Iorque e os 20 anos do "crash" do comunismo são comemorados este ano, e de dez em dez anos, se encontram novamente para soprar velinhas do bolo juntos. Sim, o Muro de Berlim não foi, de per si, o fim do comunismo, mas foi o episódio mais marcante. Tivemos outros, claro, como a execução sumária e transmitida pela TV do líder comunista romeno Ceausescu, e a troca de bandeiras no Kremlin, numa noite fria de Moscou: saiu a vermelhinha e entrou a tricolor, rápido como um golpe de estado hondurenho.
Pois não é sensacional ? No mesmo ano podemos comemorar a falência do sistema capitalista, representado por um pânico em Wall Street e suicídios em massa, e a derrocada da artificialidade comunista, simbolizada no muro derrubado.
Isto é extremamente conveniente para os que não conseguiram se entender até agora. São capitalistas, mas defendem a intervenção do Estado. São ricos, mas financiam proletários e camponeses em investidas guerrilheiras. Estão no Poder, mas acumulam bens de forma distinta da população. Ou estão fora dele ( do Poder), mas almejam tomá-lo com motivações muito menos nobres que as ideológicas.
Isso sem contar os um bilhão e duzentos milhões de chineses que continuam sob a tutela de um Partido Comunista, mas vivem no mais pujante e pouco justo capitalismo do planeta.
Não é muito interessante esta coincidência ? E se somarmos que estamos no ano em que os governos socializam ícones do capitalismo, tipo GM ?
Enfim, 2009 é um ano para comemorarmos qualquer coisa. Sem preocupação com a coerência. Sem se preocupar com compromissos firmados em rodas de grêmios estudantis ? Sem se preocupar em discordar de um texto de própria autoria que a velocidade astronáutica da Economia se encarregou de deixar anacrônico, ou porque não admitir, errado ? Sem se preocupar de ter lido o Pasquim e ter concordado com tudo e hoje ler Fukuyama sem sentir repugnância ? Ou, sem se arrepender de um dia ter pego em armas para promover uma guerrilha e hoje se sentar no Poder e empregar suas energias todas em se manter, fazendo alianças exatamente com aqueles que poderiam ter passado pela mira das suas armas no passado ? Ou ainda, ter sido um entusiasta das idéias neo-liberais de Thatcher e Reagan e hoje entender que o mercado precisa de uma "certa dose de regulação" ?
Tudo isso sem culpa, sem compromisso, pois há saída para qualquer posicionamento ?
Não é um ano mesmo especial ?
Passo a imaginar Neil Armstrong e "Buzz" Aldrin lá na lua, olhando a Terra no horizonte, como uma esfera única e no seu íntimo sabendo que estavam lá pelo desenrolar de uma Guerra Fria, resultado de uma divisão ideológica do mundo e a corrida armamentista e de tecnologia. A esfera era única na visão, dividida em suas mentes.
Se eu hoje estivesse na lua e olhasse a Terra de longe, certamente enxergaria diferente.
Afinal, Chávez, Fidel, o norte-coreano esquisitão, Lula, Mugabe, Ahmedjinejad, os milicos de Mianmar, a foice, o martelo e o touro de Wall Street não seriam visíveis a olho nu.
E não conseguiria distinguir mais divisões na esfera azul. Nem as saudáveis.

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