domingo, 2 de agosto de 2009

Eu não sou a Regina Duarte !

Mas estou com medo.
Eu não sou, nem quero ser comparado à Regina Duarte. Na campanha das eleições de 2002, no horário reservado ao PSDB, ela disse que tinha medo do Lula. "Lula", no caso, me pareceu ser um pouco mais que o candidato. Ter medo do Lula deve ser coisa de quem tem mania de perseguição. Sozinho, Lula não mete medo em ninguém. Ele não sabe falar, mal sabe ler e deve escrever bisonhamente. Não deixará legado duradouro.
Por isso, não quero ser comparado à Regina Duarte.
Também não concordo com o partidarismo do "medo". Como não tenho medo do Lula, também não tenho medo do Serra, do Sarney, do Renan, do Garotinho, do Cabral, do FHC, do Stalin, do Hitler, do Saddam ou do Hugo Chávez, individualmente.
O que me dá medo é o aparelhamento do Estado com os quais todos estes, e mais umas várias dúzias que eu poderia citar, compactuaram. Sim, porque sozinhos nada teriam feito. O raciocínio pode ser explicitado por um fato histórico, notório e claro. O que seria de Hitler sem Goebbels e mais uma meia dúzia ?
Tenho amigos e conhecidos que vão de um extremo ao outro do espectro político. Conheço bem suas convicções e superficialmente as teorias que suportam estas convicções. Também não tenho medo da esquerda, da direita, do meio...
Por isso, por favor, não quero ser comparado à Regina Duarte.
Mas os fatos parecem querer me convencer de que devo ter medo.
Eu nunca vi tanto esforço conjunto para desmoronar as instituições como agora.
É coisa demais acontecendo ao mesmo tempo: crise no Senado, sem-vergonhice do Berlusconi, descrédito total do poder público estadual e municipal, cara-de-pau reincidente e grave do Lula, que ora defende ora se afasta das crises, Justiça com vísceras podres expostas, Polícia Federal fazendo investigação e divulgando aqui e acolá sabe-se lá porque, Igreja e igrejas completamente desnorteadas e temporais demais para quem almeja algo espiritual e, para acabar com toda a minha crença de que restou alguma coisa na qual eu possa repousar meus olhos e fazer uma leitura sem ter que abrir um caleidoscópio de inferências e ilações, escarafunchando entrelinhas e cruzando notícias aparentemente desconexas para formar uma idéia, a imprensa soçobrou. E feio. Não sobrou nada.
Não vou justificar meu ponto de vista com retrospectivas longas ou considerações profundas porque nem jornalista sou. Não acredito no PIG, nem no que venha a ser a sua oposição. Não tenho mais o menor respeito pelo Paulo Henrique Amorim, como também não tenho pela Míriam Leitão, que fique claro. Leio tudo o que posso e sou acometido de espanto, somente.
O fato recente, que mereceria repúdio coletivo da imprensa, fosse dos jornalões ditos membros do PIG, fosse das publicacões alinhadas com os partidos da "base aliada", é um desembargador conceder uma liminar para que um jornal pare de publicar gravações de investigações da Polícia Federal sobre um pessoal do Maranhão.
Isso não é de dar medo ?
Pouco importa como o jornal está obtendo as transcrições das gravações. Se for de forma ilícita, que se apure o ilícito. Pouco importa que o jornal esteja dando destaque às mesmas. Qualquer veículo de informação pode dar destaque à atuação do zagueiro do Arranca-Toco F.C., bem como ao último evento na Indonésia que vitimou umas três centenas de pessoas, pois a linha editorial do mesmo é, e deve ser sempre, independente. Leia-o e compre-o quem quiser.
Pouco importa também que seja o jornaleco do bairro ou o grande jornal de circulação paulistano-nacional.
É simples para mim. No estado de direito com garantias mínimas, qualquer um pode divulgar a notícia que bem entender, e que arque com as consequências de suas publicações. Mas não se deve impedir ninguém de divulgar nada. Das duas, uma: ou é verdade ou é calúnia. A ser apurado, após ter sido publicado ou dito, porque antes, para mim, é censura.
Mas vá lá que o tal jornal tenha extrapolado e mereça que a espada e a cegueira da Lei intercedam. Sabe o que me deixou com medo mesmo ? Foi ler muito pouco, ou nada, em outros grandes, ou pequenos jornais, sobre a tal liminar.
Se o resto da imprensa tolera, ou não combata, que um jornal, concorrente por sinal, seja impedido por liminar de publicar alguma coisa, trata-se de uma situação que pode ter diversas interpretacões, e Deus-me-livre-guarde de imaginá-las, porque já estou com muito medo.
Coincidentemente, o governo de Chávez, o da Venezuela, no mesmo dia do expediente do desembargador, fechou algumas dezenas de emissoras de rádio "não-bolivarianas".
Por favor, não quero ser comparado à Regina Duarte. Mas estou com medo.

2 comentários:

  1. E é pra ter medo mesmo. Uma certa onda está tomando conta dos mundos, primeiro, segundo, terceiro ou qual seja sua classificação. As crises dos poderes legislativos, sejam elas policiais (como as nossas) ou institucionais (como a coreana mostrada na semana passada) estão cada vez mais comuns. Os discursos estão cada vez mais radicais. E muitas outras coisas estão cada vez mais. Mais o que você puder imaginar. Minha impressão, em vários momentos, é que estamos - metaforicamente - caminhando de volta ao tempo de feudos e reinos. Inclusive o nosso. Tenho muito medo do que pode acontecer com o Brasil até e/ou a partir de 2010. Não, como você, também não sou a Regina Duarte, mas estou morrendo de medo.

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  2. A Viúva, que não é a Porcina, agradece a preocupação...

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