domingo, 23 de agosto de 2009

Domingo de Grand Prix, dos 8 aos 100

Hoje, 23 de agosto de 2009, num exílio forçado longe de casa, resolvi dedicar a manhã a um descanso no isolamento do hotel, e assistir com calma à final do Grand Prix 2009 de vôlei feminino, no Japão, e o Grand Prix da Europa de Fórmula 1, na pista urbana de Valencia, na Espanha.

Depois de um sábado de visita à gigantesca festa do Peão de Boiadeiro de Barretos resolvi que iria dedicar um texto a esta manifestação cultural estranhíssima para um carioca, mas que não foi uma experiência exatamente ruim. Isso será assunto de um outro Blog.

O adiamento da missiva sobre a festança caipiro-rural-sertanejo-pop-cult-kitsch foi decidido há minutos.

Quando liguei a televisão, às 7:00 não poderia imaginar que iria assistir a dois momentos marcantes do esporte brasileiro. Quatro horas depois, haviam dois assuntos mais urgentes que a festa de Barretos, e atendendo, por curiosidade, pelo mesmo nome: Grand Prix, ou Grande Prêmio, em francês.

Não faço a mais vaga ideia de porque o equivalente à Liga Mundial de Vôlei masculina, na versão feminina recebe o nome de Grand Prix. Na Fórmula 1, o nome remonta ao início do século passado, quando as corridas de automóveis não tinham exatamente campeonatos, mas uma corrida por país por ano, desde 1906, era chamada de Grande Prêmio do país. Como o primeiro foi na França, ficou Grand Prix. A Fórmula 1 quando se organizou como campeonato em 1950, firmou o nome de Grand Prix, ou sua rubrica GP, em cada corrida.

E o domingo começou com o jogo final entre Brasil e Japão, pelo GP de vôlei feminino. Com a vitória da Rússia por 3 a 0 sobre a Holanda, restava ao Brasil vencer, por qualquer placar, mas vencer. E o jogo começou complicado, com o time japonês sacando muito bem e demolindo a defesa brasileira. Perto do final do set, com uma inversão 5-1, a nissei Anna Tienne, que acabara de entrar, fez uma defesa daquelas de cinema, o time cresceu e...bola para a Sheilla, que virou tudo. O Brasil passou a frente no placar só na casa dos 19 pontos e faturou. O segundo set foi mais complicado ainda. Mari, aniversariante do dia, estava mal na recepção e no ataque. Jogo equilibrado e o Japão venceu por 27 a 25. No terceiro e quarto sets, o normalmente calmo José Roberto Guimarães coçava a cabeça num estilo Bernardinho, mas mexia no time de forma perfeita. Entraram Sassá e Fabiana, o bloqueio brasileiro cansou as japonesas e a líbero Fabi defendeu muito. E, para variar, Sheilla virou tudo. Sem sustos, venceu o jogo.

Foi a oitava conquista brasileira na competição. E Sheilla eleita a melhor do campeonato.

O vôlei brasileiro é um fenômeno. Domina as quadras e as praias e produz talentos como nenhum outro. Sheilla não é uma novata, mas há muito que vem jogando muito bem. Agora teve o reconhecimento devido. E foram oito conquistas da competição mais importante do vôlei, depois do campeonato Mundial e das Olimpíadas, mas que é a mais cansativa delas.

Aí, quase sem pausa, começa o GP de Fórmula 1, em Valencia, com Rubinho em terceiro. Era a primeira corrida depois que a mola do Rubinho foi parar na testa do Massa. Só tinha o Rubinho para torcer mesmo. Isso foi até motivo de comentários maldosos durante a semana. O velho Barrica largou em terceiro atrás das Mc Laren. Não ultrapassou nenhuma das duas, mas atualmente, sendo rápido na hora certa, e se o cidadão que vai à frente der uma bobeada, uma paradinha no posto de gasolina faz ganhar posições. E, a 19 voltas do fim, lá estava o Rubinho em primeiro. Só perderia por falta de sorte, coisa que, aliás, os brasileiros andam esbanjando.

Na hora pensei: e se o Schumacher tivesse corrido ? Ia cumprimentar o Rubinho ? E o Massa sendo homenageado no capacete do Rubinho ? E quem disse que o Rubinho era um piloto aposentado em atividade ? Estaria pensando o que ? Mas o mais importante nessas 19 voltas era a contagem regressiva para ver, pela centésima vez, um brasileiro vencer na Fórmula 1. E ver um esportista tendo a chance de mudar seu legado.

Se me dissessem, de 2006 para cá, que a honra da centésima vitória brasileira caberia ao Rubinho, eu certamente duvidaria. Mas o mundo gira, a Lusitana roda, e o circo da Fórmula 1 tem suas mulheres barbadas e seus palhaços. Estas 19 voltas separavam Rubinho de escapar da pecha de atração de circo, para fazer história. Foi tranquilo. 19 voltas controlando o Hamilton.

E tem Rubinho no lugar mais alto do pódio, o que era muito improvável há um ano atrás. Mas tem mais que isso. Ao subir lá em cima, o piloto brasileiro da Fórmula 1 mais ironizado de todos os tempos venceu a mítica centésima corrida para Pindorama. E de quebra, sua décima vitória particular. Rubinho deixou de ser o palhaço instantaneamente e foi o trapezista, foi o mágico, foi outra atração mais nobre do circo.

E façam as contas. Emerson Fittipaldi ganhou 14 corridas, José Carlos Pace ganhou 1, Nelson Piquet (pai) ganhou 23, Ayrton Senna ganhou 41, Felipe Massa ganhou 11. Com as dez do Rubinho: 100.

100 GP´s na Fórmula 1. 8 GP´s no vôlei feminino. Nos números, uma manhã marcante. Para alguns esportistas, um dia especialíssimo.

Sheilla, reconhecida. Rubinho, redimido.

O surgimento e a recuperação, aos 8 e aos 100.

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