sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Aceitar

Havia prometido aos meus cada vez mais numerosos leitores que escreveria um texto sobre a experiência de um carioca ir, sem estar devidamente preparado, à Festa do Peão Boiadeiro de Barretos 2009.
Mas os últimos dias foram atribulados e este escriba amador acabou envolvido em outras prioridades. Para não deixar a Sheilla e o Rubinho congelados no Blog, busquei em um dos textos que já publiquei qual estaria mais ligado aos meus sentimentos atuais, e que, por uma incrível sequência de coincidências, observei que está afetando também muitas pessoas próximas.
Então segue um texto que tem 45 dias de publicado sob o título Negação, Raiva, Negociação, Depressão e Aceitação, de volta à tela.

Eu gostaria de evitar, mas sou forçado a mencionar um episódio de uma série de TV como uma pequena obra-prima que aborda as reflexões humanas diante da inevitabilidade da morte. Trata-se do primeiro episódio do segundo ano de "House", chamado Aceitação. Nos 45 minutos do episódio há um intenso conflito de todos os envolvidos com o fato de que dois pacientes estão condenados à morte. Um deles, um prisioneiro do "corredor da morte", assassino quádruplo, que, na véspera de sua execução, tem alucinações e problemas cardíacos, e várias complicações estranhas. O outro, uma moça saudável e de conduta irrepreensível, que chega se queixando de cansaço e tosse. O Dr. House se interessa mais pelo caso do prisioneiro. Aqui, então, começa um conflito com quase toda a sua equipe e com a direção do Hospital. Afinal, para que salvar a vida de um condenado à morte ? E porque o pouco caso com uma paciente cujo raio X indica um tumor no pulmão ? A lógica e a ética começam a duelar. Seria lógico deixar o condenado morrer e concentrar os esforços na moça com diagnóstico precoce de câncer ? A evolução da trama expõe a improvável convergência entre a lógica e a ética. O condenado irá morrer, mas não deveria ser por problemas de saúde, e sim por determinação do Estado. Estranho, mas é ético e lógico, não se pode negar. Já a moça, pelo diagnóstico da biópsia, tem tumores malignos. O máximo que se pode fazer é prorrogar sua vida por alguns meses. Ambos estão condenados a morrer. Um, pela lei. Outro, pela doença. É difícil aceitar que o condenado merece sim, morrer, mas não daquela forma. Como é difícil aceitar que uma moça jovem e saudável esteja com um diagnóstico fatal. Neste ponto, a evolução dos sentimentos que surgem diante da certeza da morte vira o enredo do episódio. Negação, Raiva, Negociação, Depressão e Aceitação. O que é genial no roteiro enxuto, é que todos, não só os doentes, acabem percorrendo estes estágios. Inclusive o Dr. House. Ao saber ou lidar com uma morte iminente, vem a Negação, em primeiro lugar. Ou seja, o sonoro "não, aquilo não é possível". Em seguida vem a Raiva, a irritação com a condição, que toma conta das ações e faz com que as atitudes fiquem pouco racionais. Em seguida, a Negociação, ou Barganha, quando começam a aparecer contrapartidas, e aspectos que nada ou pouco tem a ver com a situação e são usados para obter piedade, ou regalias, ou, o mais importante, alguma coisa que sustente a esperança de reviravolta. A Depressão vem a seguir: velha companheira da Raiva, a Depressão se manifesta pela apatia, pela desistência da luta, pelo desânimo. Por fim, a Aceitação, que não significa resignação, mas um estágio de reconhecimento do fatal, do inevitável, e como lidar com isto, com qualidade e buscando o conforto. Toda a trama só converge no estágio da Aceitação. A propósito, o condenado sai andando do Hospital, voltando para o "corredor da morte". Uma última apelação seria tentada, mas sem o apoio do Dr. House. Já a jovem moça recebe a confirmação de pouco tempo de vida. Chora e desaparece. Na última cena, Dr. House, cuja conduta é tão controversa, se mostra coerente: deprimido, bebendo sozinho em seu consultório, se levanta e deixa no quadro da sala apenas uma palavra escrita: aceitação.

Aos olhos de nosso senso de justiça, pessoas más merecem destinos ruins e pessoas boas merecem destinos bons. Infelizmente, o curso da vida não é sempre assim, apesar do grande esforço que fazemos para isso acontecer. Ou será que é isso que acontece mesmo, mas nossos julgamentos é que estão errados ? O melhor é aceitar.

Um comentário:

  1. Luiz, não tinha lido esta!
    mais tem uma outra briga entre aceitar e compreender.O ato de aceitar fazemos com o coração(ex: no altar dizemos aceito), já o copreender fazemos com a razão, pois muitas vezes copreendemos mais não aceitamos.Dai muitas vezes entra o Perdão, pois apesar de comprender a atitude não aceitamos e assim acabamos por não perdoar que também é uma atitude do coração e não da razão.vixe ficaria horas dando exemplos!!!
    Gosto dos seus textos, continue escrevendo!!!
    Parabéns
    Humberto(dave jones)

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