sábado, 15 de agosto de 2009

Os Beatles do riso ?

O grupo inglês Monty Python pode estar para o humor assim como os Beatles estão para o rock. Atenção, escrevi "pode". Não afirmo.
Os Python estrearam em 1969, como uma reunião de seis comediantes britânicos provenientes de origens distintas. A diversidade do grupo talvez seja a razão para o resultado: um humor absolutamente "nonsense", mas nem por isso idiota ou sem pretensão. As críticas dos Python são de uma acidez incomparável, tendo o seu ápice no famoso longa-metragem "A Vida de Brian" que esculhamba de forma inteligente os filmes de reconstituição da vida de Jesus Cristo, e que só pode ser percebida como grosseira ou blasfêmia por aqueles que vem ameaça em tudo o que não podem compreender direito.
O programa dos Python na TV britânica chamava-se "Flying Circus". No Brasil, em fins da década de 70 surgiu um espaço cultural no Arpoador chamado "Circo Voador", uma clara referência. Sua principal atração, o grupo "Asdrúbal Trouxe o Trombone", tinha forte influência dos Python, bem como seus componentes e seus trabalhos posteriores, assim como a linhagam Casseta & Planeta. Nos Estados Unidos, o humor dos Python influenciou uma escola enorme de atores e roteiristas de humor, a começar pelo Saturday Night Live, e chegando ao South Park.
Além da TV, o Monty Python fez shows, filmes, roteiros para outros filmes e, quando chegou ao fim, seus integrantes continuaram influentes em várias áreas. Artistas do mundo todo colaboraram e fizeram aparições nos shows e filmes, incluindo Steve Martin, Ringo Starr, George Harrison, Rowan Atkinson (o Mr. Bean), John Belushi, Madeline Kahn, Tom Hanks, entre outros.
Quando o grupo foi acusado de homofobia, Graham Chapman, um de seus integrantes, assumiu publicamente ser homossexual. Outro membro, Terry Gilliam, tinha nacionalidade britânica e norte-americana e quando discordou publicamente das políticas de George W. Bush, recebeu uma moção de desconfiança da casa Branca. Não vacilou. Renunciou à sua cidadania norte-americana.
"A Vida de Brian" teve suas filmagens suspensas dois meses antes de seu início pois os produtores temiam a reação dos conservadores e da Igreja. O admirador George Harrison, ao saber disto, financiou e produziu o filme. Quando George morreu, em 2001, três componentes dos Python ( Michael Palin, Terry Gilliam e Terry Jones) resolveram conjuntamente com Eric Clapton, Jeff Lynne e Ringo organizar um tributo a George, um ano após sua morte.
Para além do sarcasmo, os Python foram, individualmente o que podemos chamar de "gente boa", sujeitos que gostaríamos de ser amigos.
O humor dos Python é "nonsense", mas provavelmente o mais erudito dos "besteiróis".
O quadro que considero o maior exemplo é o da final do Campeonato Mundial de Filosofia, disputado no Estádio Olímpico de Munique, entre Grécia e Alemanha. A Alemanha entra em campo primeiro, com a formação 4-2-4, com: Leibnitz, Kant, Hegel (capitão), Schopenhauer e Schelling; Beckenbauer ( surpresa de última hora) e Jaspers; Schlegel, Wittgenstein, Nietzsche e Heidegger. A Grécia vem com uma óbvia formação defensiva em 5-3-2, com: Platão, Epítecto, Aristóteles, Sófocles, Empédocles e Plotrino; Epicuro, Heráclito (capitão) e Demócrito; Sócrates e Arquimedes. Aristóteles é o líbero e considerado o melhor jogador do campeonato.
O trio de arbitragem é formado pelo juiz Confúcio, e seus auxiliares São Tomaz de Aquino e Santo Agostinho.
O juiz dá a saída e os jogadores deixam a bola parada e começam a pensar e filosofar em campo. Sócrates dá uma arrancada falando sozinho e sem bola. O goleiro Platão contempla o campo. Beckenbauer, como todos os outros, fica parado com a mão no queixo.
Perto do fim do jogo, o técnico alemão, Lutero, resolve escalar Karl Marx. Não há consenso sobre quem deve sair e Wittgenstein, voluntariamente, abandona o campo. Marx não consegue mudar nada no ataque, como esperado.
A um minuto do fim, Arquimedes grita Eureka ! e inicia a jogada do gol. Após o gol, há uma intensa discussão entre Hegel, Kant e Confúcio sobre se o gol é parte da realidade ou não é, enquanto Marx reclama de impedimento !
Isso tudo se dá em apenas 3`45" ! E há muito mais a ser visto e observado no pequeno filme que está disponível no Youtube, legendado em Português no link:
http://www.youtube.com/watch?v=S4cdLmHlNOk&feature=PlayList&p=D7374580480E3FA8&playnext=1&playnext_from=PL&index=8
Vale a pena.
Faltam duas observações. Dois dos componentes dos Python ainda não foram citados. Um é John Cleese, que já ganhou o Oscar de ator coadjuvante e escreveu junto com Palin "Um Peixe chamado Wanda", e atuou até em filmes de 007. E Eric Idle, talvez o mais versátil do grupo, também foi jogador de futebol profissional e músico, tendo escrito as versões para o teatro de musicais baseados em textos dos Pyhton. O quadro do Campeonato Mundial de Filosofia foi supostamente de sua autoria, isoladamente. Idle foi o único que brigou com o resto do grupo, recentemente, quando as coletâneas do "Flying Circus" foram remasterizadas e relançadas em DVD.
Se podem ser comparados aos Beatles, é difícil concluir.
Mas na apresentação do famoso show que fizeram no Hollywood Bowl, em meados da década de 80, o locutor os chama, ironicamente de John, Paul, George e Ringo.
Ninguém reclamou.

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