terça-feira, 11 de agosto de 2009

Ribeiro/Lula

O filme Frost/Nixon, baseado na peça homônima, reconstrói o que teria sido a história antes, durante e depois da fulminante entrevista que o jornalista britânico David Frost fez com o único Presidente da história dos Estados Unidos que renunciou, Richard Nixon. Era um encontro improvável.
Apesar de ter renunciado, Nixon ganhou o perdão do seu sucessor Gerald Ford e iniciava um esforço de reconstrução de sua imagem, com a intenção de voltar à ativa na política norte-americana. Além disso, muitos tinham medo de Nixon, pois seu discurso era firme, era um político sagaz, experiente, que tinha enfrentado debates extenuantes com JFK, Brezhnev, Mao-Tse-Tung, de Gaulle, entre outros.
Já Frost era um bom entrevistador mas também era um reconhecido festeiro e humorista, além de não ser americano. Frost pagou 600 mil dólares a Nixon pela entrevista.
O prognóstico era de que Nixon engoliria Frost. O que de fato aconteceu em 75% do tempo. Nixon não só conseguia fazer um marketing pessoal positivo, principalmente em cima das decisões tomadas sobre o Vietnam e a aproximação com a China, como Frost estava visivelmente sem condições de conduzir a entrevista.
Até que Frost percebe que aquilo é mais que uma entrevista. É um embate e ele está prestes a perder e ainda por cima tendo pago para Nixon voltar à cena política. Numa sequência fulminante de afirmativas e perguntas arrancou de Nixon a famosa frase "o que um Presidente decide não pode ser considerado ilegal" e a expressão atemorizada e deprimida do ex-Presidente num close, enquanto repetia fatos e dados sobre subornos e conspirações para intimidar os adversários após o episódio de Watergate.
Então, pode ser inferido que, de acordo com as características do entrevistado, talvez o entrevistador mais inusitado seja aquele que consiga extrair o que o público quer ver: verdades, histórias esclarecidas, semblantes de tristeza por ter sido flagrado faltando com a verdade, ou mesmo de alegria se comprovado algo a favor do entrevistado que o redimiu de um julgamento anterior.
Aqui no Brasil, as pessoas públicas não estão nunca dispostas a este tipo de exposição de entranhas. Alguém imagina Collor falando sobre o "impeachment" ? E, neste momento, sem a proteção do parlatório, Sarney falaria com algum jornalista ? E Renan Calheiros ? E FHC ? E Marcos Valério ?
Então fiz a seguinte inferência: se um entrevistador mal informado e que nem jornalista de profissão é pudesse falar com Sarney ou com José Dirceu, por exemplo, numa sessão de entrevistas com regras claras, o que aconteceria ? Para falar a verdade, não tenho a mais vaga ideia, mas aqui vão algumas sugestões:

Acelino "Popó" Freitas / Collor - Sem dúvida, um programa imperdível. Além de não entender algumas explicações do entrevistado, Popó iria perguntar a toda hora se o alagoano conhece a fundo a realidade de ser camponês no Nordeste. E, caso Collor lançasse aquele seu olhar de fronteiriço-violento, Popó não titubearia e daria-lhe logo um "upper" de direita. Na tomada seguinte, Collor estaria lá, com um curativo no queixo, respondendo às perguntas de Popó. Conteúdo talvez fosse o menos importante nesta entrevista.

Mainardi/FHC - O sujeito que escreveu um livro chamado "Lula é minha Anta" deve ser pró-FHC, certo ? Não. Diogo Mainardi enfrentaria FHC com uma retórica que seria simplesmente um deleite para os que gostam de citar outros autores e mostrar ostensivamente sua erudição e intelectualidade. FHC, grande sociólogo e estadista, doutor "honoris causa" de umas trezentas universidades mundo afora e Mainardi, que leu Wittgenstein aos 12 anos e Kant no original aos 17, fariam um duelo socrático. Com uma diferença: FHC não consegue ser ferino para ser levado a sério e Mainardi só consegue ser levado a sério quando é ferino.

Gonçalves/Rousseff - Imaginem...Dercy e Dilma ? Das duas uma, ou Dilma escancarava um sorriso e uma risada sincera em público, pela primeira vez na vida, ou Dercy começaria uma série de observações sobre sua vida sexual. Infelizmente, esta é uma entrevista impossível. Mas, no lugar da Dilma, eu consideraria seriamente a possibilidade, afinal ela precisa mostrar uma imagem mais descontraída. Riscos ? Bem, Nixon correu riscos também.

Luxemburgo/Sarney - Seria a maior guerra de egos possível no Brasil. O problema seria a entrevista descambar apara assuntos do tipo "a tinta que uso para tingir o cabelo pode melhorar o visual do seu bigode, o senhor já pensou nisto ?" Ou então, "minha manicure é ótima, mas estou procurando outra. O Senhor indica alguma em Brasília?". Sem dúvida, haveria um diálogo imperdível sobre alfaiates e figurinos de paletós.

Ribeiro/Lula - Não consigo imaginar ninguém melhor para um bate-papo com o Lula do que o Agildo Ribeiro. Alem do humor escrachado, Agildo reagiria de imediato com alguma careta ao primeiro plural errado do entrevistado. Lula tentaria ser engraçado, porque é de seu feitio, mas Agildo o botaria de joelhos com algumas imitações. Lula tentaria o contragolpe rindo e Agildo o fulminaria com uma piada mais elaborada. Lula se escora na sua popularidade e só se sentiria de fato "impopular" se alguém o expusesse no mais popular escracho.

Outras hipóteses interessantes seriam Dicró/José Dirceu, Galvão Bueno/Arthur Virgílio (os dois falando ao mesmo tempo o tempo todo), Pe. Marcelo Rossi/Senador Crivella, João Saldanha/Paulinho da Força Sindical ( grandes chances de terminar em briga) ou um programa internacional, Garotinho/Hugo Chávez (que poderia ser chatérrimo ou hilário, a risco do patrocinador).

2 comentários:

  1. Talvez mais algumas sugestões: Didi Mocó (o personagem, não o Renato Aragão)/Nuszman, Chico Anysio/Eduardo Paes, Miguel Falabella/Aécio Neves, Agostinho/José Serra e, como não, Sirelli/Orlando Silva Jr.

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  2. Essa aconteceu: João Gordo/Lars Grael
    http://mtv.uol.com.br/gordovisita/videos/como-uma-onda-no-mar-joão-gordo-e-lars-grael-velejando-pela-ba%C3%AD-de-guanabara

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