sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Filmes Esquecidos

Em 19 de julho, escrevi um texto sobre meus filmes preferidos. Um dos que selecionei, e algumas pessoas me perguntaram onde encontrar e que filme é este foi Local Hero, que no Brasil durou pouco tempo no circuito comercial e parece que foi totalmente esquecido por aqui, sendo impossível achá-lo em locadoras e, creio, nem a Patricia Kogut conseguiria localizar uma programação de canais de televisão por assinatura, numa varredura desde 1994 até hoje, onde e quando este filme foi exibido. O título em Português para o filme foi de uma infelicidade total: Momento Inesquecível. No universo web, no entanto, observa-se que o filme tem seus seguidores-cultuadores mundo afora. É possível comprá-lo em vários sites fora do Brasil, mas só existe na configuração de região 1, ou seja, não é compatível com a maioria dos aparelhos reprodutores de DVD no Brasil e não existem legendas em Português. O grande rastro deste filme é o CD de sua trilha sonora, composta por Mark Knopfler, líder do Dire Straits. O tema principal é bem conhecido pois também aparece em gravações dos Straits ao vivo e em apresentações de Mark em shows.
Mas existem outros filmes igualmente muito bons que, sabe-se lá porque, também não são encontrados no Brasil, não são exibidos nem nos canais mais estranhos de TV por assinatura, e também não localizei versões do DVD disponíveis para região 4 ( a que compreende o Brasil) ou "ALL" que podem ser tocados em qualquer aparelho de DVD. Seguem algumas lembranças minhas e espero que os meus 8 leitores usuais complementem a lista com outros bons filmes que foram omitidos do público brasileiro.

Peter's Friends - O nome do filme no Brasil foi "Para o Resto de Nossa Vidas", outro batismo muito ruim. Trata-se de um filme dirigido por Kenneth Branagh, entre Henrique V e Frankenstein de Mary Shelley, filmado em 1992, e, infelizmente, esquecido no Brasil. Colegas de faculdade resolvem se reunir na mansão do amigo Peter, interpretado por Stephen Fry, e descobrem que suas diferenças aumentaram muito, mas sua amizade também aumentou, numa proporção maior, a ponto de tolerarem o pedantismo de um que se tornou escritor famoso, de outro que casou com uma atriz de TV famosíssima ( ela também comparece na reunião), de uma bela mulher que nunca encontrou ninguém para um relacionamento sério e que só pensa nisso e de outro que teve seguidos surtos nervosos e está completamente sequelado. O elenco é simplesmente sensacional tendo, além de Stephen Fry, o próprio Kenneth Branagh, Emma Thompson, Hugh Laurie, Alphonsia Emannuel, Tony Slattery ( no papel do surtado, impagável), Imelda Staunton e Alex Lowe. Alguns nomes não são muito conhecidos, mas seus rostos são muito familiares, pois este grupo é mais ou menos o mesmo que se formou junto em Cambridge em Artes Dramáticas, e tiveram algum sucesso, embora tenham seguido caminhos distintos: Branagh viveu um ciclo shakesperiano, Fry, Laurie e Slattery fizeram programas cômicos de TV, e Laurie hoje é o Dr. House, da série de TV. Emma Thompson dispensa apresentações. Staunton e Lowe seguiram Branagh em vários outros filmes. A trilha sonora é um capítulo à parte para os que viveram a década de 80. A abertura do filme, por exemplo, é com "Everybody Wants to Rule the World", do Tears for Fears, que casa perfeitamente com a chegada dos amigos à mansão.
No final, o anfitrião Peter tem uma surpresa para seus convidados e percebe-se então um ciclo fechado de crítica mordaz, bem-humorada e equilibrada sobre os valores, problemas, vícios e virtudes de quem cruzou os anos 80 buscando um rumo na vida. Imperdível para quem está na casa dos 40 a 55 anos.

California Suite - Uma comédia de erros, passada integralmente num hotel de luxo da California onde estão hospedados simultaneamente 5 casais. O roteiro é de uma peça teatral que fez sucesso no grande circuito (Londres, Broadway e Los Angeles). Para o filme, foi composta uma trilha sonora especialíssima, de autoria de Claude Bolling, que compôs peças de jazz e clássico para Yo-Yo-Ma, Jean Pierre Rampal e Andrés Segovia, entre outros, dividida em cinco movimentos, cada um dos quais reproduz o clima do casal em destaque. O elenco contou com Jane Fonda, Alan Alda, Maggie Smith, Walter Matthau, Michael Caine, Richard Pryor, e Bill Cosby entre outros. Maggie Smith ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 1979 por sua atuação. Alan Alda concorreu ao Oscar de Melhor Ator. O diretor Herbert Ross idem. O autor da peça original e roteirista Neil Simon perdeu o Oscar para Roteiro Adaptado, mas ganhou menção honrosa da Academia. Claude Bolling ganhou prêmio de melhor trilha no Tony, no British, no Goden Globe e na New York Academy, mas no Oscar não. Enfim, um filmaço. Mas que não conseguimos achar em DVD's no Brasil.

What's Up, Doc - Esse recebeu o pior nome possível no Brasil: "Essa Pequena é uma Parada". Trata-se de uma comédia repleta de referências dirigida por Peter Bogdanovich em 1972, que acabou mais conhecido por "Lua de Papel", de 1974. Estrelado por Barbra Streisand, Ryan O'Neal ( num incrível papel cômico, logo após o lacrimogêneo Love Story) e Madeleine Kahn, que estreou com este filme no cinema e abocanhou todos os prêmios de 1973, menos o Oscar. As referências começam no título original, o bordão do coelho Pernalonga, e repetido diversas vezes por Barbra Streisand. O roteiro se baseia numa confusa troca de maletas idênticas, que contém desde uma montanha de dinheiro de um mafioso até amostras de rochas para um congresso de Geologia e se passa num hotel e nas ladeiras de São Francisco. O filme tem números musicais, afinal Barbra Streisand não estaria no elenco à toa. Mas todos são irônicos e com referências, como "As Time Goes By", incluindo um "Play it again., Sam". A música ambiente do hotel é sempre de Cole Porter. Em uma cena em que os personagens se misturam a um evento em Chinatown, os chineses estão inexplicavelmente tocando "La Cucaracha".
Mas existem outras referências impagáveis. O carro utilizado numa fuga é um Fusca idêntico (sem o número) ao Herbie, do filme de Disney. Uma perseguição de carros é uma versão bem-humorada de "Bullit". Mas a melhor de todas vem no fim do filme quando Ryan O'Neal repete, com todas as sílabas, uma fala de seu personagem em Love Story, para, pensa e diz em seguida:
- Essa foi com certeza a pior frase que já disse em toda a minha vida.
Deboche puro.

Unfaithfully Yours - Finalmente uma tradução decente, que em Português recebeu o título de "Infielmente Tua". Uma comédia mal digerida por crítica e público, dirigida por um desconhecido em 1984, e, que não passava de uma refilmagem de um filme com Rex Harrison, de 1948, esse sim muito elogiado.
Mas a refilmagem é uma comédia mais ágil e Dudley Moore, no papel principal, é muito mais engracado que Rex Harrison. Ele interpreta um famoso maestro que suspeita que sua mulher (uma Nastassja Kinski deslumbrante) o trai com o violinista da orquestra. Antes de sair de casa para reger um concerto para violino, de Tchaikovski, ele vê sinais que confirmam sua suspeita. A mesma é reforçada pelo comportamento arrogante e irônico do violinista (Armand Assante).
Enquanto rege o concerto, ele imagina o plano perfeito para matar a mulher e o amante, e as cenas imaginadas por ele casam perfeitamente com a música. Daí ele decide colocar em prática o plano, que não sai nada parecido com o que imaginou enquanto regia o concerto, e a música de fundo passa a ser uma peça de Wagner.
Dudley Moore está impagável, e, além disso, foi escalado às pressas para um papel que seria de Peter Sellers, que morreu dias antes de começar as filmagens. Neste filme também fica claro um talento de Moore que poucos conhecem: ele era um exímio e dedicado pianista clássico, além de ator. Enfim, ele salva, e com honras, o que teria tudo para ser um filme totalmente esquecido. Vale pela atuação de Moore.

É isso. Se quiserem comprar, sites americanos tem todos, mas para região 1. Converter para região 4 é fácil, mas contente-se com legendas em inglês mesmo, ou, em alguns casos, em espanhol.
E aumentem a "lista dos filmes esquecidos".

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