domingo, 1 de novembro de 2009

2012 e o Fim do Mundo

Estava hoje, ou melhor, ontem, em 31 de outubro de 2009, despreocupadamente fazendo umas comprinhas de supermercado quando me deparei com a capa de uma revista semanal (bons tempos em que se chamava isso de hebdomadário !!!) de grande circulação e o meu estado de despreocupação passou instantaneamente ao de inquietação, para logo depois virar preocupação mesmo.
Para completar a introdução visivelmente paranóica, hoje, ou melhor, ontem, 31 de outubro de 2009, foi aniversário do meu filho, e no jantar de comemoração o assunto dominante foi o mesmo da capa do tal hebdomadário. O fim do mundo em 2012. Mais exatamente em 21/12/2012. E cá estou sem sono porque estou realmente preocupado com o Fim do Mundo em 2012.
Não li muito a respeito, não vi o tal filme que traz imagens inéditas do fim do mundo, sequer comprei a revista para ler a matéria, mas estou em pânico quase.
Explico porque.
Tudo começa com uma coincidência de calendários desenvolvidos por civilizações antigas, como os maias e os chineses de muito antes de Mao-Tse-Tung, entre outros. Passa por uma linha comum em várias religiões que entendem que haverá inexoravelmente um momento de ruptura com o todo atual e algo evolucionista acontecerá, principiando uma nova civilizacão ou uma nova "raça". Segue passando por previsões de físicos, botânicos, biólogos, climatologstas e outros cientistas respeitados com indicadores de um colapso da Humanidade tal e qual a conhecemos hoje. Por exemplo, Einstein teria predito que o decréscimo populacional de abelhas no Hemisfério Norte seria um indicador de uma catástrofe ambiental e alimentar pois são as abelhas que respondem por 80 % da polinização de tudo que é vegetal acima do Equador ( se esses dados são válidos nem discuto). Pois bem: a população de abelhas acima do Equador despencou nos últimos dez anos e a continuar neste ritmo, haverão pouquíssimas em 2012.
Há a questão da mudança rapidíssima do polo norte magnético da Terra. Este pólo norte nada tem a ver com o Pólo Norte Geográfico. Mas era próximo, tanto que as bússolas guiaram todo mundo por muito tempo sem muitos erros grosseiros ( talvez tirando o de Colombo, que pensou estar na Índia quando, na verdade, estava passeando pelo Caribe ). E agora não está mais tão próximo assim. Disto sou testemunha e posso assegurar. Comparando uma boa bússola náutica e um aparelinho de GPS, no Rio de Janeiro, a diferença entre os dois já passa de 22 graus. Ou seja, quem olha uma bússola magnética e acha que achou o Norte, na verdade achou uma vila que fica entre Vancouver e o Alaska. E daí vem umas teorias que dão conta de que o teimoso polo norte magnético resolverá parar de passear e dará um salto, trocando de lugar com o polo sul magnético. E isto seria o fim do mundo, ou algo muito perto disto. O cálculo para isto acontecer aponta o mesmo ano de 2012.
Realmente, parece que, desta vez, depois de tantas previsões de fim dos tempos, há um acordo mais amplo entre religiosos de todas as orientações, místicos, cientistas, historiadores, curiosos e compradores de publicações espetaculosas. O fim do mundo será mesmo em 2012.
Não é mesmo um terrível motivo de preocupação ?
Eu estou muito preocupado. Afinal, tanta gente inteligente e sabedora de informação privilegiada está de acordo, porque eu que não estudei nada sobre o tema não deverei ficar também ?
Talvez porque esteja preocupado demais com a degeneração de valores de nossa sociedade, com as desigualdades entre ricos e pobres da Europa e da África, por exemplo. Porque estou preocupado com a falta de ética e de um mínimo de senso de coletividade de quase todos os membros de nossa classe política, porque Hugo Chávez aos poucos instala um regime neo-nazista pertinho daqui, com apoio do governo do meu país e isso me preocupa muito. Porque me preocupo demais com o que e como vamos deixar estas coisas para nossos filhos e netos. Enfim, porque minhas preocupações não estão baseadas em ligações complicadas entre arqueologia, religião, estatísticas parciais e pouco ilustrativas. Não são preocupações que vem de deduções elaboradas e elocubradas. São quase constatações.
Constatações simples, como ver uma publicação de grande circulação colocar o tema como matéria de capa, quando para mim , existem coisas muito mais sérias, que afetam o dia seguinte de todos nós e que mereciam ter espaço sim em capas de revistas, de jornais, de livros, de forma que se torne informação útil, que possa se traduzir em movimento contrário, em conscientização de problemas nos quais podemos interferir, tanto no comportamento diário, quanto na conduta geral, como na hora de pagar o imposto e escolher o seu candidato a qualquer cargo eletivo.
Por isto estou extremamente preocupado. Simplesmente porque o mundo não vai acabar em 2012. Há muito trabalho e muito estudo para ser feito para que tratemos disso como coisa séria.
Estou preocupado com balelas, com cataclismas que nunca acontecem. Eu habito a Terra há 47 anos. Já vi umas cinco previsões firmes de fim do mundo. Provavelmente, na história do homem depois de inventada a escrita, das primeiras civilizações, de uns 10.000 anos para cá, o mundo já teria acabado umas quatrocentas vezes.
Não me empulhem com esse assunto. Para mim a pauta do dia é outra.
Isso sim, para mim é o fim do mundo.

Um comentário:

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    Tenho 51 anos, Elevê, esse "Hebdomadário" deve ter sido usado (pra leitura e pra higiene íntima) há uns... 147 anos!!!
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    Boa elucubração!
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