domingo, 28 de junho de 2009

A vida é Honduras !!!

A situação em Honduras não deve interessar a ninguém aqui no Brasil, penso eu. Mas eu me interessei.

O caso é o seguinte: o Exército sumiu, repentinamente, com o Presidente Zelaya, eleito em 2005. O sujeito apareceu na vizinha Costa Rica, dizendo que não renunciou e foi seqüestrado. O Exército não assume o golpe, mas informa que o tal Zelaya está foragido na Costa Rica. O Congresso, teoricamente do mesmo partido do deposto Presidente, declarou sede vacante e o atual presidente do Congresso, cujo nome pouco interessa agora, assumiu a Presidência pelo resto do mandato de Zelaya. Mas, antes, Zelaya havia convocado uma “consulta”, que seria realizada hoje (28 de junho) sobre a possibilidade de reeleição do Presidente. Esta consulta foi declarada inconstitucional pelo Judiciário, mas o Executivo , sabe-se  lá como, manteve sua realização, e para hoje mesmo. Na sexta-feira passada (26 de junho), o Exército declarou que não efetuaria a segurança das eleições e da já citada “consulta”. Zelaya destituiu então todo o Estado-Maior do Exército. Os oficiais do Exército entraram com um mandado de segurança na Justiça, que declarou nulo o ato presidencial. E, para resolver a encrenca de vez, resolveram exportar o Presidente. E, ato contínuo, ocupar as ruas, que aliás, salvo uns enroscos que não chegam perto de uma briga entre torcidas de futebol no Brasil, estão calmas.

Tudo muito rápido, como pode ser depreendido, embora seja bastante confuso e muito difícil de saber os detalhes de alguma coisa desta incrível sequência de fatos narrados.

Mas, convenhamos, mandar o Presidente pacificamente e em segurança para outro pais, é, no mínimo, inusitado. E sem uma morte sequer !!!

Bom...numa rápida análise da balança comercial hondurenha, observa-se que 82% das exportações e 81% das importações tem como parceiro os Estados Unidos. Curiosamente, também, o principal item de importação é igual ao principal item de importação: materiais têxteis. Só em segundo lugar nas exportações aparecem as frutas, de forma que não é apropriado chamar Honduras de “banana republic”. Interessante, também observar que 45 % da população do pais é de menores de 15 anos. Estes dados não são chutados. Estão no boletim do Insee, francês.

Independente das reações observadas no high society politico inter- americano, composto por Obama, Chávez, Bachelet, entre outros, que repudiaram o golpe, ao tentar visualizar Honduras, fica fácil perceber que nada poderia ser feito num pais paupérrimo, com maioria de população indígena e mestiça, povoado de crianças, e totalmente dependente da economia norte-americana, se não contasse com o apoio dos...norte-americanos !!!

Que apoio ? Explícito ? Confidencial ? Financeiramente estimulado ? Sei lá, e pouco importa saber, a esta altura. Importante é perceber que seria simplesmente impossível um rito e um contra-rito de jogo de poder tão rápido, sem uma articulação qualquer que preservasse o pais inteiro, o Congresso, o Exército, o Judiciário, e, naturalmente, o atual status quo econômico do pais. É difícil acreditar que esta articulação tenha sido desenhada e detalhada somente dentro das fronteiras hondurenhas, pois teria que haver uma convergência de interesses realmente sensacional, já que, ressalte-se de novo, tudo se deu sem uma gota sequer de sangue derramado.

Mas, como a esperança é o motor desta América Latina, do golpe de estado hondurenho fica o sonho de, um dia, e de forma um pouco diferente, podermos incluir políticos nas rubricas de exportação. Acho que nenhuma Constituição nunca previu tal dispositivo, mas seria interessante:

“Art XX – Caso o ocupante de cargo público, eleito ou nomeado, em qualquer tempo, tiver sua conduta reprovada por uma pesquisa de um instituto de opinião qualquer, por três meses consecutivos, será imediatamente deportado, para país a ser sorteado no momento do embarque, no primeiro dia útil subseqüente à conclusão da pesquisa e sua publicação em qualquer veículo de informação.”

Uma sociedade que atingir o ponto de poder escrever um artigo deste em sua Constituição estará num estágio realmente muito maduro. De uma tacada só resolvem-se vários problemas.

Mais sumário e menos maduro que isto, vira Honduras.

Um comentário:

  1. O barulho em Honduras é interessante, poderia ser um revival das décadas de 60 a 80. Mas realmente não preocupo muito, porque os golpes de estado já foram aplicados informalmente, sem exércitos, na Venezuela, Bolívia, Equador...

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